Fábio Pozzebom/Agência Brasil
De 1991 a 2022, o Brasil perdeu 1,5 milhão de hectares em superfície de água, segundo pesquisa feita pelo MapBioma Água. O encolhimento da superfície da água no país foi de 7,5% no período, o que representa dez cidades de São Paulo. O projeto também aponta que os anos entre 2013 e 2021 foram os mais secos da série histórica, que começou a ser medida em 1985.
Apesar do cenário preocupante ao longo dos anos, em 2022, houve uma recuperação da superfície de água em território brasileiro, ficando 1,5% acima da média da série histórica, ocupando 18,22 milhões de hectares, o que equivale a 2% do território nacional. No total, o Brasil tem 6% da superfície e 12% do volume de toda a água doce do planeta.
Segundo o levantamento, o Pantanal continua sendo o bioma com maior tendência de redução de superfície de água. Apesar de ter registrado um aumento no ano passado, pela primeira vez desde 2018, a diferença da superfície de água desse bioma em comparação com a média da série histórica é de 60,1%.
Yuri Salmona, mestre em ciências florestais e pesquisador sobre os efeitos climáticos nos recursos hídricos e agricultura, explica que diversos fatores impactam na redução da disponibilidade de água, podendo ser agrupados de duas formas: fatores climáticos e fatores de mudanças de uso do solo.
“Nós vivemos em um ambiente de mudanças climáticas, onde em algumas regiões do país você tem o aumento da irradiação solar, o aumento da temperatura, com o aumento da evapotranspiração potencial, por exemplo. Isso é muito notado na região do oeste da Bahia, no Maranhão e em parte do Piauí, mas não somente nesses lugares”, pontua.
Além disso, o especialista em efeitos climáticos nos recursos hídricos afirma que a diminuição da chuva e a concentração de precipitações em períodos mais curtos de tempo também favorecem a perda da disponibilidade de água. “Em algumas regiões, em que a chuva ocorria em 4, 5 ou 6 meses, esse mesmo volume de água ou um volume de água menor tem caído em um período mais curto de 2 ou 3 meses. Isso faz com que a água, muitas vezes, não seja infiltrada adequadamente nos aquíferos”, explica.
O diretor de energia elétrica da Abrace Energia, Victor Locca, diz que os impactos da falta de água afetam a produção do setor, pois a maior parte da eletricidade vem das usinas hidráulicas. Ele cita como exemplo a região Nordeste, que nos últimos dez anos não tem conseguido gerar energia próxima à média histórica devido à falta de chuvas.
“Um dos motivos é que os reservatórios estão diminuindo, por exemplo, devido ao assoreamento. Mas também, essas usinas, na média, estão começando a gerar cada vez menos porque está chovendo menos também. […] Isso para o setor elétrico é muito preocupante”, afirma Victor Locca.
Yuri Salmona também reitera que várias metrópoles já sofrem com os impactos da baixa disponibilidade de água nos períodos secos, com o racionamento, por exemplo, nessas épocas. Esse efeito, segundo o especialista, também impacta no bolso do consumidor tanto no preço da conta de energia quanto nas compras do mercado, pois a falta desse recurso também impacta na agricultura.
“É difícil de se manter uma produção agrícola e, com isso, você acaba aumentando os preços. Quanto maior o valor ou a dificuldade de se ter os insumos para uma produção agrícola, maior o preço [final] dela”, diz.
Reportagem: Ana Luísa Santos
Edição: Katrine Tokarski Boaventura
Fonte: Brasil 61