De olho em oportunidades de mercado e em novos possíveis investidores, representantes das dez startups premiadas fizeram, na tarde desta segunda-feira (30/6/25), um relato de seu trabalho e da evolução que alcançaram a partir do Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática.
Eles participaram do Demoday, ou Dia de Demonstração, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O evento marcou o encerramento do Programa de Aceleração do prêmio, uma parceria com o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
Desde janeiro de 2025, os empreendedores participam do Programa de Aceleração. O objetivo foi fortalecer o desenvolvimento das soluções propostas para o enfrentamento à crise climática por meio de capacitações, mentorias, testes práticos e rodadas de negócio.
O Demoday foi o fechamento dessa etapa. A atividade, comum no ambiente das startups, é uma oportunidade para empreendedores mostrarem resultados dos testes de viabilidade (provas de conceito) e avanços conquistados no processo.
A Associação Florestalense de Agroecologia (Aflora), por exemplo, conseguiu dar início à operacionalização de um fundo rotativo solidário, que fornece microcrédito para implantação de sistemas agroflorestais por agricultores familiares.
“Em um ano, a família deve devolver 70% do crédito, a partir da venda de seus produtos. Assim, o recurso é passado a outro produtor. É uma relação de confiança.”
Guilherme Mamede Mobilizador da Aflora
Além do apoio financeiro, a Aflora oferece insumos, assistência técnica e inserção dos produtos no mercado, garantindo, ainda, a regeneração de solos e a diversidade agrícola das agroflorestas.
O prêmio da ALMG também possibilitou que o Agro+Verde ganhasse escala no Norte de Minas, conforme o gerente de Projetos do Sistema Faemg Senar, Harrison Belico. A iniciativa é desenvolvida pelo Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes), braço de inovação e pesquisa do Sistema Faemg.
O projeto estimula a cacauicultura por meio de sistemas agroflorestais. Ele subsidia a compra de mudas de cacau e fornece assistência técnica em propriedades com tradição na plantação de bananeiras, gerando aumento da renda do produtor.
“Implantar a cacauicultura no Norte de Minas exige uma transformação cultural. É como mudar o curso de um rio”, afirmou, acrescentando que a visibilidade conferida pelo prêmio da ALMG contribuiu para mobilizar novos produtores.
Na área de monitoramento de dados para atuação preventiva em casos de enchentes e outros eventos climáticos, quatro startups foram impulsionadas.
Com recursos do prêmio, a Ashton Tecnologia desenvolveu um sistema de Inteligência Artificial para fazer previsões com base em bancos de dados.
“Na Bacia do Rio Verde, a assertividade foi de 95% porque já temos mais dados”, exemplificou a diretora Vitória Baratella. A startup monitora também o Rio Sapucaí, em Itajubá (Sul), e transmite dados em tempo real a organismos como Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.
A Quasar Space, por sua vez, implantou sistema de monitoramento em parceria com a Defesa Civil de Pedro Leopoldo (RMBH) e com a do próprio Estado de Minas Gerais.
De acordo com a CEO da empersa, Thaís Cardoso, a partir de dados de satélites públicos e privados, a startup usa 16 parâmetros de monitoramento, como umidade do solo, precipitação e vegetação para orientar a atuação do poder público.
Também a Saltica Tecnologias Ambientais Aplicadas viabilizou, com recursos do prêmio, provas de conceito em Contagem (RMBH) e Lavras (Sul). As duas cidades contabilizaram “prejuízos climáticos” de R$ 9 milhões nos últimos anos, segundo Bárbara Soares, cofundadora da empresa.
A plataforma da Saltica, de acordo com Bárbara, permite a visualização de áreas críticas e até estima perdas econômicas. “Ela nos diz quanto custa não agir”, reforçou.
Um dos idealizadores da TidSat Global Tecnologia e Desenvolvimento, Vitor Hugo Almeida, destacou a importância da premiação. Conforme contou, gestores municipais estão interessados na solução desenvolvida pela startup.
A empresa criou um sensor para monitorar o nível da água dos rios. De baixo custo e fácil instalação, o equipamento capta o reflexo da superfície do rio, por meio de satélites, para verificar a altura da água. Os dados, disponíveis na internet, favorecem a tomada de decisão em caso de cheias repentinas.
A Green Growth usa Inteligência Artificial para monitorar cultivos e identificar pontos exatos que necessitam de insumos, evitando a aplicação de defensivos em larga escala.
Com os recursos da premiação, a startup comprou um novo drone, levou a ideia até a ponta e apurou resultados de até 70% de economia financeira e de até 80% de economia de água.
Para o CEO da startup, Luiz Fernando de Oliveira, além dos benefícios para o produtor e o meio ambiente, a iniciativa também reduz o contato de prestadores de serviços com fertilizantes químicos.
Outras três soluções lidam com fertilizantes ou inseticidas, mas todos eles naturais. Dessa forma, reduzem o gasto com insumos importados e ainda trazem benefícios ambientais.
Noreyni Grego, da Biotec Blue, citou testes realizados em Florestal (RMBH) com o biofertilizante à base de microalgas, a partir dos recursos da premiação. A avaliação dos produtores, segundo ele, oscilou entre notas nove e dez.
“O repolho colhido com 60 dias passou a ser colhido com 40 dias. E isso melhora ao longo dos ciclos”, exemplificou. O programa da ALMG e BH-TEC, de acordo com o gestor, foi “revolucionário” para a empresa, por permitir visibilidade e acesso ao mercado.
Na Befert, os insumos são feitos a partir de insetos e vendidos a pequenos e médio produtores. Com recursos da premiação, a empresa expandiu sua capacidade de produção e conseguiu recuperar áreas, aumentando em 20% a produção, segundo o CEO Kaio Sardinha.
Por fim, Júlia Machado, da Aiper, relatou experiência em uma fazenda de café em Araguari (Triângulo), onde inicialmente quatro fileiras de café foram pulverizadas com o bioinseticida da startup. Segundo ela, com o feedback positivo do produtor e recursos da premiação, foi possível pulverizar toda a produção posteriormente.
Na abertura do evento, o CEO do BH-TEC, Marco Crocco, destacou o caráter inovador do prêmio da Assembleia. De acordo com ele, a iniciativa pioneira entre casas legislativas do Brasil não só levanta a discussão e formula base para elaboração de leis, mas também traz soluções práticas para o enfrentamento da crise climática.
“O BH-TEC foi procurado por dois outros estados para replicar o programa dada sua relevância.”
Marco Crocco/CEO do BH-TEC
Segundo o presidente da ALMG, deputado Tadeu Leite (MDB), a premiação fez parte de uma ação maior, o projeto institucional “Crise Climática em Minas: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema”.
Por meio dele, houve a formação de grupos técnicos e o lançamento de seminário técnico que percorreu as diversas regiões do Estado para debater o assunto.
Como reforçou, Minas é um Estado muito grande e, em função disso, apresenta todos os cenários da crise climática a depender das características de cada região (seca ou chuva extrema). Ainda de acordo com o parlamentar, das 20 cidades que mais esquentaram nos últimos anos, 19 ficam em Minas.
“Por isso, é importante construirmos um plano de ação para tentar amenizar o problema”, defendeu.
O deputado Adriano Alvarenga (PP) e a deputada Ione Pinheiro (União) ressaltaram a importância da iniciativa da Assembleia.
Antes de encerrar o evento, os empreendedores participaram de Vitrine de Soluções e Coffee Tech, quando puderam trocar experiências e fazer atendimento individualizado.
Fonte: ASCOM ALMG