Você costuma caminhar nas ruas durante a noite? O leitor que cultiva esse hábito provavelmente enfrenta desafios noturnos, como falta de segurança e iluminação precária em calçadas, praças e parques das grandes cidades. Um estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mostra que esses problemas diminuem a circulação de pedestres nos centros urbanos depois que o Sol se põe.
A importância da iluminação do meio urbano para a mobilidade de pedestres foi objeto de estudo da arquiteta Ladjane Vanderlei, do Departamento de Design da UFPE. Segundo ela, nas grandes cidades, os pedestres deixam de caminhar à noite não só por causa da violência ou da má conservação das ruas, mas também porque postes e lâmpadas priorizam o tráfego de veículos e não o de pessoas.
Durante a pesquisa, a arquiteta observou a iluminação de cidades brasileiras como Recife, Fortaleza, São Paulo e Belo Horizonte. Ela conta que as atuais instalações de luz dos grandes centros foram feitas durante o período pós-guerra e pós-revolução industrial, quando o espaço viário passou a ser idealizado para os automóveis, o que desestimula o convívio social. “Hoje, o espaço urbano deve ser pensado para a locomoção de pedestres durante 24 horas por dia”, ressalta a arquiteta. “As ruas devem ser recuperadas como forma de representatividade coletiva.”
Segundo Vanderlei, essa é uma questão ainda pouco discutida no Brasil, que só em 2006 começou a implementar o Plano Diretor de Iluminação Urbana, projeto do governo federal, em parceria com uma empresa privada, para melhorar as instalações de luz do país. “A iluminação pública começa a abranger importantes questões, como eficiência energética, sustentabilidade e manutenção da qualidade de vida.”
Idéias brilhantes
O estudo mostra ainda que centros urbanos do mundo inteiro, inclusive os brasileiros, estão investindo na iluminação pública com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população no período noturno. Vanderlei acompanhou novos projetos de iluminação colocados em prática em capitais européias.
Um projeto implantado na orla da cidade de Lauro Freitas (BA) permite a iluminação das calçadas sem prejudicar as tartarugas que visitam a praia para a desova (foto: Acervo técnico da empresa Citéluz).
Em Londres (Inglaterra), por exemplo, o governo lançou um programa chamado “Faça de Londres uma cidade caminhável”, que promove iluminação de qualidade em rotas ligadas ao transporte público. Já na Espanha, cidades como Madri e Barcelona estão unindo iluminação ao design e projetando luminárias tanto para benefício de pedestres quanto de veículos.
A pesquisadora ressalta que o cuidado com o meio ambiente e a segurança são questões prioritárias nos projetos de iluminação pública. Por isso, lembra ela, a qualidade e o desenho das lâmpadas também devem ser considerados. Uma das novidades nesse campo é o emprego de um tipo de LED (diodo emissor de luz), que pode ser abastecido por energia solar.
Apesar de muitas cidades brasileiras apresentarem iluminação precária, alguns projetos já estão sendo implantados para aumentar a mobilidade no espaço público. A orla da cidade baiana de Lauro Freitas, por exemplo, ganhou lâmpadas especiais, que iluminam o caminho de quem passeia pela calçada e não agridem as tartarugas, que visitam constantemente a praia para a desova.
Vanderlei agora planeja analisar mais detalhadamente as vias localizadas próximo a rios, mares e lagos. “Além disso, tenho o projeto de avaliar a percepção do pedestre no Brasil e no exterior em relação aos problemas causados pela má conservação das vias públicas iluminadas”, adianta.
Fonte: Ciência Hoje