Hoje na Avenida Rebouças, em São Paulo, o menino descalço colocava balas no retrovisor dos carros para vender enquanto o farol permanecia vermelho. O farol abriu… O menino descalço havia colocado balas em tantos carros, que mesmo correndo, não acabava de retirar as que não foram compradas. Um senhor de maior idade, um dos prejudicados pela demora, passou fazendo movimentos com as mãos e expressando sua indignação em palavras graves e com a face moldada pelo seu zango.
Ficou então o pensamento: esse senhor,de algum modo, será um menino sem sapatos para compreender melhor o tempo daquele outro menino que desconhece totalmente as neuras do trânsito e o que vai dentro dos motoristas apressados e estressados de Sampa… Ficou também esse outro pensamento: esse menino,de algum modo, será um senhor motorista para compreender melhor o tempo daquele outro senhor que desconhece totalmente a necessidade e o esforço de quem vende balas, especialmente os descalços no asfalto…
Falta compreensão mútua? Falta Martin Buber? Falta “Eu e Tu” nas escolas?
Aqueles de nós que dirigem veículos, aqueles que dirigem escolas, os que dirigem empresas, os que dirigem municípios, os que estados e mesmo os que dirigem países, sejamos um pouco mais reverentes aos descalços, seus tempos e necessidades. Aqueles de nós em situações descalças, cuidemos em pensar se nossos pés já não foram cegos ao “chão” que pisáramos.
Tem o reino mineral, tem o reino vegetal, depois tem o reino animal e finalmente o humano. Para se tornar humano a relação com a animalidade deve ser repensada. É preciso que se perca o medo de se tornar humano. É preciso coragem para se tornar humano.
Senhores políticos, organizadores do caos, das coisas escusas e das cosas nostras, piedade!!