O artigo “A marcha para o Oeste – A história dos jovens engenheiros de Itajubá que trabalharam na construção de Brasília”, da engenheira Marita Arêas de Souza Tavares, ex-aluna e Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), veiculado nas páginas 10 a 15 da edição nº 42, de janeiro-outubro de 2020, na Revista Mineira de Engenharia, apresenta a experiência de engenheiros formados pela Instituição durante a construção da atual capital federal do país.
Marita Tavares, que é vice-presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), responsável pela edição da revista, inicia seu texto, informando que em agosto de 1956, os estudantes do quarto ano de Engenharia e uma equipe de professores do então Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI), atual UNIFEI, chegaram no local onde hoje está a cidade de Brasília entre os primeiros desbravadores da região, atendendo ao convite do governador do Estado de Goiás, Ludovico de Almeida, por sugestão do então secretário dos Negócios da Fazenda, José Peixoto da Silveira, para elaborar estudos e anteprojeto hidrelétrico de aproveitamento da cachoeira do rio Paranoá.
O texto enfatiza que, desde 1958, foram muitos os engenheiros formados no IEI que se aventuraram na chamada “Marcha para o Oeste”, movidos pelo espírito empreendedor que lhes foi incutido pelo fundador da escola de Itajubá. “Era o espírito ‘fazedor’, como diziam, de quem não vê dificuldades e realiza com ou sem projeto, tendo ou não recursos, na base de muita disposição ao trabalho, coragem para assumir responsabilidades, criatividade e improvisação, residindo com precariedade de conforto, em alojamentos coletivos ou em casas populares os mais graduados”, escreve a engenheira.
Também é destacado o engenheiro Afrânio Barbosa da Silva, formado pelo IEI em 1936, que foi para Brasília fazer as instalações elétricas do Palácio da Alvorada, tendo depois se tornado diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP) e responsável pelas obras de construção da usina hidrelétrica do Paranoá.
Marita também cita o engenheiro Paulo Levenhagem Mello, formado no IEI em 1949, que chegou em Brasília em março de 1959 para assumir a responsabilidade de construir e inaugurar o sistema elétrico da cidade no prazo de um ano. Ele e os primeiros engenheiros formados em 1959 que foram trabalhar em Brasília sob sua chefia no Departamento de Força e Luz (DFL), como Jedydia Workman, Cândido Mendes Pinto e Aloysio Faria de Carvalho, levaram muitos outros engenheiros de Itajubá, como Eduardo Pereira Cartaxo, que se tornou o primeiro presidente da CEB; Paulo Victor Rada de Rezende, que também foi presidente da CEB e depois secretário de Planejamento do Governo do Distrito Federal e presidente do Metrô do Distrito Federal; Ignácio Rezende e Cícero de Noronha Barros, todos estes escolhidos entre os melhores da turma de 1961 do IEI, seguidos por Marcos Naylor Zerbini, também de 1959, João Carneiro Rennó, de 1962, e Dalmo Silveira Rebello, de 1963, este último considerado a memória do sistema elétrico de Brasília até o seu falecimento. “Com estes grandes engenheiros estava formada a espinha dorsal do DFL, que o sustentaria com competência nos primeiros e difíceis anos da nova capital, quando, dos 23 engenheiros que trabalhavam no sistema elétrico, 21 eram de Itajubá”, destaca a engenheira.
O artigo cita a publicação “A Mão e a Luz 2 – Memórias da Distribuição da Energia Elétrica”, que traz uma declaração de Paulo Levenhagem Mello: “Os engenheiros do Rio e de São Paulo queriam ficar nos escritórios, enquanto os de Itajubá eram desbravadores que construíam usinas”.
Outro engenheiro destacado é Aloysio Faria de Carvalho, que tornou-se o segundo presidente da CEB e depois chefe de gabinete do então ministro de Minas e Energia, general Costa Cavalcanti, e que também levou para a nova capital do país seu colega Thomaz Dalton, primeiro presidente da Companhia Telefônica de Brasília (COTELB), depois Telebrasília.
A autora cita novamente Cícero de Noronha Barros, o qual, em 1969, fundou, com seu irmão Daltro Noronha Barros, também formado em Itajubá, em 1968, a empresa Delta Engenharia Indústria e Comércio, que prestou grandes serviços por 50 anos em Brasília, e que deu origem a dois grupos de empresas até hoje muito atuantes, o grupo de Cícero, de nome Stylos Engenharia, e o grupo de Daltro, de nome Espaço Y Engenharia.
Jorge Vieira Palma é outro engenheiro que ficou marcado na história de Brasília por ser designado, em meados de 1959, para coordenar a implantação, no prazo de seis meses, das estações repetidoras do sistema de comunicações por microondas, feita por equipe própria da NOVACAP. Ele assumiu ainda a instalação de uma monumental torre de TV de 224 metros de altura, que fazia parte do plano piloto de Brasília.
Marita finaliza seu texto, informando que muitos outros engenheiros de Itajubá foram para Brasília nos anos subsequentes, como empresários, ocupando cargos de direção ou participando de empresas prestadoras de serviços, principalmente para a CEB e a Eletronorte, ou ainda em assessorias técnicas nos ministérios e em outros órgãos do governo. Segundo a engenheira, pode-se afirmar que todos os pioneiros citados compactuaram com a visão de Juscelino Kubitscheck expressa em sua célebre frase, escrita no dia em que pisou pela primeira vez o solo onde surgiria a nova capital federal: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu País e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.
O artigo completo de Marita Tavares pode ser conferido em: