No dia 11 de abril, o G1 noticiou o registro de 11 casos de febre amarela no sul de Minas Gerais em 2025, sendo que cinco resultaram em óbitos. Como essas ocorrências têm deixado a população alarmada é importante uma nota que apresente informações relevantes sobre esse problema.
Surgimento da febre amarela: De acordo com o Manual de Vigilância Epidemiológica de Febre Amarela (2004), a febre amarela pode ter sido introduzida nas américas através dos navios usados no tráfico de escravos. Nesses, podiam vir tanto os mosquitos infectados, quanto pessoas já portando a doença. A primeira epidemia de febre amarela urbana no Brasil ocorreu em Recife/PE, em 1685. Entre 1850 a 1899, a doença se propagou pelo país atrelada à navegação marítima e fluvial, causando epidemias do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Em 1920 foi diagnosticado o primeiro caso de febre amarela silvestre no sítio Mulungú, município de Bom Conselho do Papa Caça/PE. Note que na sentença anterior aparece a palavra silvestre, então é necessário distinguir o que é febre amarela silvestre e urbana.
Febre amarela silvestre e urbana: A febre amarela pode ser transmitida por dois ciclos distintos: o ciclo silvestre e o ciclo urbano (Figura 1). A principal diferença entre eles está no tipo de hospedeiro (animal ou humano) e no ambiente onde o vírus circula. No ciclo silvestre, o vírus circula principalmente em florestas tropicais e em áreas selvagens, onde mosquitos transmitem o vírus entre animais silvestres, como macacos e outros mamíferos selvagens. O Aedes aegypti não é o principal vetor nesse ciclo. Os mosquitos do gênero Haemagogus (principalmente Haemagogus janthinomys e Haemagogus equinus) e, em alguns casos, Sabethes são os mosquitos responsáveis pela transmissão. Como a cada dia mais o homem invade os habitats naturais, os humanos podem se infectar quando entram nessas áreas naturais e são picados pelos mosquitos infectados. No ciclo urbano, o Aedes aegypti (mosquito originário do Egito, na África, e que vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16, quando iniciaram-se as Grandes Navegações, IOC, s/d), é o principal vetor do vírus. O vírus é transmitido de humano para humano por meio da picada de mosquitos que se alimentam do sangue de uma pessoa infectada. Destaca-se que os mamíferos, como os macacos, não são os responsáveis pela febre amarela. Eles, assim como o homem, são infectados pela picada de mosquitos. Em consulta a Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Itajubá, obteve-se a informação de que o mosquito Sabethes, vetor do meio silvestre, já foi encontrado em Itajubá.
Figura 1 Ciclo silvestre e urbano da febre amarela. Fonte: Ministério da Saúde, 2014.
Sazonalidade: como o mosquito Aedes Aegypti é o principal vetor da febre amarela no meio urbano, as ocorrências de febre amarela são maiores no mesmo período da dengue, que são entre dezembro e maio (verão e outono), período em que os mosquitos encontram condições propícias para sua evolução.
Prevenção: A vacina é a principal ferramenta de prevenção da febre amarela. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferta a vacina e só é necessária uma dose.
Sintomas da Febre Amarela: Os sintomas podem variar de leves a graves. Os sintomas iniciais geralmente aparecem de 3 a 6 dias após a picada do mosquito infectado e podem incluir: febre alta, calafrios, dores de cabeça, dores musculares, dor nas costas, fadiga, náuseas e vômitos e perda de apetite. Já os sintomas graves são icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos), sangramentos (gengivas, nariz, sangue nas fezes), dificuldade respiratória, Insuficiência hepática (fígado), insuficiência renal, delírios e convulsões (em casos graves).
Tratamento: procurar atendimento médico imediatamente. O médico poderá confirmar o diagnóstico e tomar as medidas adequadas para o tratamento. Não há tratamento antiviral específico para a febre amarela, mas os cuidados médicos podem incluir: hidratação adequada, controle de febre e dor com medicamentos específicos, monitoramento de sinais de falência hepática ou renal e cuidados de suporte em casos graves (como internação hospitalar para suporte ventilatório ou transfusão sanguínea).
Aumento do número de ocorrências: O número de casos de febre amarela tem aumento em algumas regiões do Brasil, incluindo a região Sudeste, especialmente em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Embora o Brasil tenha implementado campanhas de vacinação em massa, surtos esporádicos de febre amarela ainda ocorrem, particularmente em áreas de mata atlântica e zonas de transição para a floresta. Ocorreram surtos em áreas urbanas em 2017 e 2018, que aumentaram a preocupação com a doença nas grandes cidades.
Condições em Itajubá: segundo a Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Itajubá, entre março e abril deste ano havia 54 suspeitas de casos de febre amarela, mas em 24 de abril, 39 casos já estavam descartados; os demais ainda aguardavam resultados de exames encaminhados a Belo Horizonte.
Recomendação Final: vacine-se e use repelente regularmente.
Agradecimentos: Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Itajubá
Referências
IOC (s/d). Dengue – Vírus e Vetor. Disponível em https://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/longatraje.htm. Acesso em 23.04.2025
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https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2025/04/11/prefeitura-de-maria-da-fe-confirma-morte-por-febre-amarela-no-municipio-regiao-tem-11-casos-e-cinco-mortes.ghtml. Acesso em 23.04.2025
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Manual de Vigilância Epidemiológica de Febre Amarela (2004). Brasília. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_epid_febre_amarela.pdf. Acesso em 23.04.2025
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia de vigilância de epizootias em primatas não humanos e entomologia aplicada à vigilância da febre amarela / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-amarela/publicacoes/guia_vigilancia_epizootias_primatas_entomologia.pdf/view. Acesso em 27.04.2025
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Por Dra. Michelle Reboita, Pesquisadora do Centro de Ciências Atmosféricas da Unifei