A carreira de promoter, coisa dos tempos modernos, pode incluir atualmente mais uma criatividade no ramo: festa de descasamento. A novidade veio de fora e parece que “está pegando” aqui no Brasil, para a alegria dos promoters que assim podem alargar seu leque de atuação. A princípio, a idéia de fazer uma festa ao descasar-se pode parecer estranha e até inconsequente, porém urge explorar todos os ângulos da questão antes de tomar qualquer partido, esclarecendo que, partido aqui se refere à posição de contra ou a favor da festa de descasamento e não aquele partido de “bom partido” ou da pessoa casadoura, alvo dos longos suspiros apaixonados.
Nitzsche, o incomparável filósofo, além de outras tantas questões, abordou também a do casamento. Dizia ele que toda pessoa, ao pensar sobre a possibilidade de se casar deveria se perguntar se seria capaz de conversar com prazer com tal pessoa até sua velhice. O problema é que quando se faz essa pergunta, o casamento ainda não se realizou e evidentemente todos acham que seriam capazes de conversar com prazer com o (a) amado (a). E o negócio é o depois, o dia a dia, pois “no início, tudo são flores”, sabiamente repetia meu pai. Além disso, Nietzsche não se casou e disse isso numa época em que o descasamento era impensável e muito menos uma comemoração de tal evento.
Casamento é coisa séria e festa de casamento, a deduzir pelo que quase sempre demonstra a euforia dos noivos, parece ser mais séria ainda do que a prática da união. A cerimônia e a festa! Ah, sim! Aquela parafernália que tem que ser planejada com pelo menos um ano de antecedência. A lista de convidados, os convites, o lugar onde será a cerimônia, o bolo com os noivinhos em cima, os docinhos, as lembrancinhas, o vestido de noiva, meu Deus, o vestido de noiva! com cauda ou sem, o banho de noiva, a maquiagem, o terno tipo “smoking”, o carro que leva a noiva, daminhas e pajens, as alianças na cestinha ricamente ornada com fitas de seda, os promoters entrando e saindo apressadamente da igreja, aquele nervosismo gostoso, as lágrimas de emoção, os convidados olhando para trás para ver a noiva fazendo sua entrada triunfal, a fila interminável de padrinhos e madrinhas e depois da cerimônia, o baile, aquele baile! E abre a carteira porque tudo custa muito caro!
Aí, vem a lua de mel e, finalmente, o real da vida de casados, empreendimento que nem sempre acaba bem, ao contrário da festa planejada pelos promoters com todos os requintes possíveis e impossíveis de perfeição. No começo, os cônjuges se estranham um pouco, depois se estranham mais ainda, os gênios se revelam e se rebelam. Quando a relação começa a degringolar, não há promoter que resolva, só mesmo os consortes que pensavam estar preparados. Bom, preparado, preparado, ninguém está porque num casamento tudo é possível e nessa vida, não há garantias de nada.
Há os que persistem, que conseguem, que contornam, que se perdoam e mesmo que se toleram. Mas também há os que são mais práticos, aqueles que ao invés de se lamentarem, arrastando-se numa relação impossível, enfrentam com coragem a possibilidade de recomeçar a vida. E há os mais afoitos, que encaram a vida como uma eterna festa e tudo é motivo para festejar, até uma separação. Então vem a outra festa, a do descasamento. Os mesmos promoters são contratados para o sucesso do evento que fazem “bombar”. Li em uma reportagem que fabricam até lembrancinhas como chaveirinhos, balões e bonequinhos de bolo de descasamento e a festa serve como pretexto para conhecer um novo amor. Como diz o povo: pode?
Afinal, casamento não tem receita para dar certo, é tão difícil que até dizem ser loteria. Mas uma coisa é certa: a festa de casamento quase sempre é uma ilusão e a festa de descasamento … não digo que sim, nem digo que não, pode ser uma cruel, mas real libertação. Nunca saberemos se Nietzsche não se casou porque foi rejeitado pela Lou-Andreas Salomé (uma ensaísta e psicanalista que fascinou o filósofo) ou se, ao contrário de louco como se julgava, talvez tenha sido mais lúcido do que todos nós.