De sua janela, Dona Marianinha assistia a toda a movimentação dos preparos para a festa junina. É junho outra vez, meu Deus, como o tempo passa! Lembrou-se ela do marido falecido há alguns anos no mesmo mês. Ela era apaixonadíssima por ele, e sofrera muito com sua morte. Verdade seja dita: o homem tinha um ciúme de doido e Dona Marianinha não podia dar um passo sem dar conta de onde ia. Era da casa pra igreja e da igreja pra casa. Sua maior vontade era dançar na festa junina e todo ano ela ficava namorando aquela festa alegre. Armavam as barracas, o tablado, enfeitavam com bambuzinhos verdes e bandeirinhas coloridas. A fogueira crepitava, lançando chamas que quase voavam até sua varanda, iluminando a noite escura e fria. Chegavam os sanfoneiros, os cantores e os pares fantasiados. A música mexia com ela e ela mexia os quadris com os cotovelos apoiados na janela. Meu Deus, que vontade de dançar a quadrilha! Quando o marido era vivo, não podia nem ouvir falar no assunto, era homem sério demais para essas festas. Agora bem que podia, era viúva, os filhos não mais moravam com ela. Era livre, por que não? Como se aquilo tivesse sido decidido há muito tempo, a viúva tratou de se preparar. Achou um vestido xadrez amarelo, colocou um xale, pintou a boca de vermelho e seja o que Deus quiser, estou cansada dessa vida certinha, a gente morre aí e não vive nada, não faz o que tem vontade. A mulher saiu decidida, chegou ao local coalhado de gente. Havia jovens, crianças e velhos. Sem se importar com o que podiam falar, dançou, tomou quentão, sentindo uma liberdade pra lá de gostosa! De repente recebeu um bilhete de namorado, desses que distribuem nas festas juninas. Ficou imaginando de quem poderia ser, afinal ela já era uma senhora, devia ser alguma brincadeira, mas gostou, quem tá na chuva é pra se molhar. Mas eis que apareceu o autor, era um dos sanfoneiros que também ficara viúvo há pouco tempo. Dançaram, conversaram e antes da festa junina do próximo ano já estavam casados. Nunca perderam mais festas, especialmente as juninas. Dona Marianinha, feliz da vida, costumava aconselhar as moças que encontrava no salão da Gertrude: olha gente, a vida não foi feita pra gente ficar assistindo, mas pra viver, pra fazer o que tem vontade e pra ser feliz! Passa tudo rápido demais da conta! Dá um pulinho na festa junina e depois me conta!