A Sociedade Brasileira de Física (SBF) quer aproximar a ciência produzida nos laboratórios das universidades e dos centros de pesquisa à linha de produção da indústria nacional. Na terça-feira (7) e na quarta-feira, a SBF e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Inovação, Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), promovem, em Campinas (SP), workshop com a participação de empresários, acadêmicos e técnicos do governo para discutir os desafios para a física do futuro.
A intenção dos físicos é contribuir para a formulação de políticas de ciência e tecnologia que estimulem a inovação a partir do conhecimento gerado no Brasil e agregar valor aos produtos fabricados aqui. “Isso não vai ser feito de maneira espontânea”, reconhece o presidente da SBF, Celso Pinto de Melo. Na opinião dele, um dos desafios é superar as diferenças entre a cultura empresarial e a cultura científica.
De acordo com Melo, a aproximação mais notória entre cientistas e empresas ocorre na exploração de petróleo. Ele também aponta para o potencial da indústria eletrônica e para o “caráter mobilizador” do programa espacial brasileiro, que, ao fabricar foguetes e satélites, estimula cadeia produtiva nacional.
Na opinião do presidente da SBF, os físicos podem contribuir na área de materiais e tornar commodities abundantes no Brasil em produtos acabados. Esse seria o caso, por exemplo, do silício cristalino extraído do quartzo exportado em estado bruto pelo Brasil e usado para a fabricação de peças com supercondutividade eletrônica. Outro exemplo seriam os chamados metais de terras raras – elementos químicos que são usados na fabricação de motores magnéticos. Segundo Melo, o Brasil tem as maiores jazidas de terras raras do mundo.
Já para o físico Eduardo do Couto e Silva, que coordena o encontro desta terça-feira, as diferenças de cultura são bastante marcadas entre as empresas e as universidades, o que pode eventualmente criar barreiras para um diálogo mais profícuo. Segundo ele, os físicos têm dificuldades de expressar as qualificações e os empresários, em articular as demandas. “O problema é que a gente quer inovação para amanhã”, observa. Ele acredita que pesquisadores e empresas, no entanto, estão conseguindo uma maior aproximação.
O bom momento econômico pelo qual passa o Brasil, em comparação a Europa e os Estados Unidos, e a perspectiva de desenvolvimento animam o físico. “É inconcebível que a comunidade científica não acompanhe essa evolução”. Além de ser responsável pelo evento em Campinas, Eduardo do Couto e Silva coordenou duas enquetes em que a comunidade física foi o público-alvo. Os dados da primeira pesquisa, com 3 mil físicos, ainda estão sob análise. Além de fazer uma demografia de campo, as enquetes identificarão experiências de interação entre o setor acadêmico e a indústria.
Edição: Lana Cristina
Fonte: Agência Brasil