Era uma foto pequena, pequenininha, daquelas de antigamente, em preto e branco, lógico. Mostrava um casamento de 1955, o casamento do meu primo Zé Hilton com sua linda noiva, a Mainha. Lá sorriam felizes: minha avó Mulata, a matriarca pedralvense, todos seus filhos ou quase todos. Uma filha já havia partido para o Céu, e me parece que um filho não estava presente, não sei por que. Mostrava também a família da noiva, lógico. A foto tradicionalmente era tirada com todos os presentes na porta da igreja.
Bem, eu estava numa loja lá da rua Nova comprando umas coisinhas. Enquanto a mocinha embalava minha louça eu tirei o celular e fui olhar as mensagens. Havia uma mensagem de meu irmão que me enviava a tal foto, perguntando se eu e minha irmã estaríamos presentes na fotografia, ao lado de outras meninas. Sendo a foto tão pequena, eu aumentei daquele jeito que a gente faz para poder ampliar a imagem. Olhei as meninas pequenas, e havia uma que eu reconheci, era minha irmã e concluí que eu devia ser a menorzinha ao lado, visto que sempre estávamos juntas. Imediatamente meus olhos se encheram de lágrimas ao observar aquela cena. Já aprendi que os idosos fazem sempre isso ao olhar fotos antigas. Emocionei-me sim, não só por nos reconhecer, mas por ver a vovó cercada de tantos filhos, por me lembrar de minhas origens, da família pedralvense que eu tanto amava e amo. Vovó Mulata e meus tios eram puro carinho. A vida voa, a vida voou.
Mais tarde, ele me disse que nossa mãe também estava presente e explicou que ela estava ao lado de uma prima nossa, a Lourdinha. Imediatamente confirmei: é ela sim. Mais emoção, mais lágrimas. Encaminhei a foto para minhas irmãs e primas e trocamos várias mensagens confabulando sobre quem era quem. Comentei com meu marido e novamente eu me emocionei, mais lágrimas e lágrimas.
Hoje, sem mais nem menos, volta meu irmão para falar da foto e me dá uma notícia impactante: nem a mamãe, nem eu, nem minha irmã estávamos presentes na foto. Ahn? Como assim? Quem falou? Uma das meninas que estava presente na foto, disse lembrar-se de todo mundo e falou todos os nomes, menos os nossos. Mas … mas não é possível, aquela carinha era a da minha irmã, eu tenho certeza, já a minha, bem, na verdade, eu estava olhando de lado, meu rosto não aparecia, mas eu senti que era eu. Vivi o dia de ontem com as emoções à flor da pele e os olhos rasos d’água.
Conclusão: a gente vê o que quer ver, ou o que o coração quer ver. Outra conclusão plausível: todas as menininhas de Pedralva eram lindinhas e todas se pareciam.
Meu problema com Pedralva foi nunca mais ter voltado lá. Desde que saí, ainda menina, dilacerada pela dor de deixar aquelas serras maravilhosas, foi criado um vão em minha alma, um vazio, uma dor de criança. Por fora não se nota, mas até hoje, minha alma chora. Para dizer a verdade, voltei lá sim algumas vezes, mas nunca mais foi igual, foi mais doloroso, isso sim, perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Só um jeito, pois tenho cá comigo mais uma centena de jeitos de sorrir. Cada dia escolho um!
Mas ainda continuo achando que éramos nós, pequenas, participando daquele lindo casamento!