E o Natal chegando. Os rapazes e também os mais novos sabiam que o Natal era missa do galo e com muita sorte um franguinho no almoço do dia 25. Não havia presentes nem árvore de Natal. E naquele ano um dos meninos mais novos cismou que queria uma árvore de Natal. A mulher olhou para aquele desejo com certa apreensão. Árvore não era problema porque o irmão mais velho apareceu com um pinheirinho apanhado lá no alto da colina. Logo alguém surgiu trazendo uma lata com areia e o pinheiro ficou lá verdinho e pelado num canto da sala. O menino reclamou que para ser árvore de Natal era preciso pendurar bolas coloridas nos galhos. Não havia bolas coloridas nem em preto e branco, contudo alguém se lembrou de que as árvores de Natal também normalmente tinham neve, e o algodão foi logo providenciado, o que já deixou o pinheirinho com um pálido esboço de árvore de Natal americana, e pôs o menino mais animado.
Uma semana antes do Natal, a mulher soube que na casa dos Custódio estavam dormindo no colchão de palha pura, sem lençol, que um dos garotos estava doente e que mal tinham o que comer. Então ela deu uma boa vasculhada em seus lençóis velhos, escolheu umas roupas dos meninos, cerziu umas já esgarçadas, lavou, passou. Que fique claro que ela não deu do que sobrava, mas do que ainda usava. E quando o filho mais velho que já trabalhava na canjiqueira apareceu com o dinheiro da semana, ela gastou uma parte no armazém para comprar mantimentos, e de noitinha fez uma visita aos Custódio e deixou com eles o que podia. Foi uma festa para aquela família. Logo, outros vizinhos também deram alguma coisa que foi possível. Quando a mulher voltou, foi repreendida pelo marido que reclamou que mal tinham para eles e ela havia gastado um dinheiro que faria falta. A mulher respondeu que sempre se dava um jeito.
Na véspera do Natal, alguém veio avisar que havia na estação de trem alguns sacos endereçados à família. A mulher mandou dois dos filhos irem ver do que se tratava, talvez fosse um engano, não haviam comprado nada, encomendado nada, não esperavam por nada. Dia 24 de dezembro, chegam os dois moços à casa com três sacos que fariam inveja ao Papai Noel. Havia uma carta. Era de um primo melhor de vida que há muito tempo morava na capital e que andava sumido. Pedia desculpas por não mandar nada novo, embora algumas coisas tivessem sido pouco usadas e talvez pudessem servir para os meninos. Rasgaram os sacos e toda a família não podia acreditar: roupas de cama, toalhas de banho e de mesa, roupas de homem, de crianças, vestidos, sapatos, até brinquedos, tudo praticamente novo. E também havia uma caixa muito bem embrulhada, envolta em palha e algodão, cuidadosamente lacrada. Quando abriram, a surpresa foi ainda maior – bolas de Natal, de todas as cores, até douradas e prateadas. Duas ou três haviam quebrado, mas as outras que eram muitas vestiram o pinheirinho de Natal no melhor estilo natalino, e o menino mais novo passava os dias e as noites de olhos arregalados para sua Árvore de Natal. Aquele Natal nunca foi esquecido.
Esta história é real, bem, quem conta um conto aumenta um ponto. Digamos que foi inspirada em fatos reais, um pouco ou muito exagerados por mim. É uma história de minha gente, gerações passadas que trataram de registrar o fato para que os que viessem depois ficassem sabendo.
Sabemos que só há uma maneira de receber, é dando, e isto é uma lei que funciona tanto para o bem como para o mal. Tudo retorna para nós. Em uma crônica de Cecília Meireles, ela diz: ” … e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar um flor, um pintinho, um caramujo, um peixe …” Os melhores presentes nem sempre são os mais caros.
E as Festas estão chegando outra vez. Feliz Natal!