Fui almoçar em um restaurante perto de casa, hoje, porque não tinha nenhuma vontade de cozinhar. Às vezes eu fico com preguiça.
Mas hoje, na verdade, eu não queria me demorar almoçando, porque tinha que terminar de escrever um artigo, e se fosse prá cozinha levaria um tempo grande cozinhando (eu sou meio demorada na cozinha).
Quando cheguei, quase duas horas da tarde, o restaurante cheio, sentei-me atrás de um casal que logo me chamou a atenção.
Eram ambos altos, magros, vestidos de preto, uma jaqueta nas costas, e foi aí que me caiu a ficha: na entrada eu vi uma Harley-Davidson maravilhosa, igualzinha àquela que eu sonho ter desde criança.
Claro que prestei toda a atenção neles durante todo o meu almoço.
Eu sou a pessoa mais fácil que eu mesma conheço de inventar histórias mirabolantes.
Num segundo eu tinha criado toda uma história do casal, desde o berço: eles eram amigos desde a infância. Tinham nascido na mesma maternidade, de duas grandes amigas que engravidaram na mesma época.
As duas crianças cresceram juntas, viajaram pelo mundo todo com os pais, que eram grandes aventureiros, meio ao estilo americano de sair pela estrada.
Cada vez mais os dois percebiam que gostavam das mesmas coisas: viagens, aventura, velocidade, liberdade…
Os pais voltavam ao Brasil, sempre todos juntos, para que os filhos tivessem uma escolaridade regular. Mal chegavam as férias, lá estavam eles de novo no mundo.
Um dia os dois, que agora já eram jovens, começaram a planejar as suas próprias viagens.
Planejar era modo de dizer: eles montavam na moto (que compraram em parceria com o primeiro salário de profissionais de marketing – eles fizeram a mesma faculdade) e decidiam pela direção do vento, pra onde iriam.
Eu quase já os conhecia, era quase uma grande amiga deles, a essa altura.
Por um triz me levantei pra lhes dar um abraço e reclamar que fazia muito tempo que a gente não se via.
Mas bem nessa hora… eles se levantaram, pagaram e foram embora.
Enquanto escrevo, estou aqui imaginando como eles se chamavam, pelo menos: Maria? José?
Não tive tempo de saber…
Por Graça Mota Figueiredo
Professora Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG