Estas reflexões(baseadas na experiência de um curso de extensão para idosos na Universidade Federal de Itajubá) corroboram a importância do espaço escolar para a melhoria de qualidade de vida de seres humanos idosos.
Torna-se pois, salutar, refletir sobre a situação do idoso em suas dimensões histórica e social, a partir de estudos de universos mais precisos e definidos, a fim de evitar a homogeneização do próprio processo de envelhecimento. Menos um fator biológico e mais um determinante de condições sociais construídas historicamente, a terceira idade necessita ser despida de sua roupagem universal e assumir seu caráter eminentemente histórico.
Muitas mulheres velhas (mais que homens) começaram a conquistar o espaço escolar, com o corpo arcado, com as vozes quase emudecidas pelas perdas sofridas. Perda de espaço na sociedade, perda da imagem de ser produtivo, perda do desejo de luta. Ao embrenharem-se num processo de reconstrução de significados para suas vidas, foram despindo-se de uma couraça que as amedrontavam, que as imobilizavam. Frente aos desafios propostos, diante de um espaço que estava ali, para ser conquistado, foram assumindo a escola como o espaço possível para o renascimento da alegria, do brilho nos olhos, de um projeto de necessário à continuidade da vida. Ao ouvir a voz do outro, ao partilhar dores e experiências, o grupo iniciou um processo autogerador de compromisso com a vida, com os atos transformadores de sua qualidade. Neste sentido, cabe ressaltar as conquistas que iniciaram nos espaços não-escolares, espaços da comunidade, desde danceterias e praças, às instâncias efetivas de tomadas de decisões (como o Conselho Municipal dos Idosos). Tais conquistas solaparam nestas mulheres vestígios ou marcas de um tempo em que a vida havia perdido sua razão de ser, talvez, pelo desconhecimento de suas possibilidades enquanto seres habitantes e cidadãs que são. Exercer este domínio sobre seus próprios corpos e ações supõe uma retomada de valores esquecidos por uma sociedade instigada pelo consumismo, pelo efêmero das relações e dos sentimentos: o resgate de velhos e velhas como seres que produzem o novo, o prazer; a recuperação do sentido da participação deles num mundo que parece traçado somente para as novas gerações; a redescoberta da alegria de conviver com o outro; a perda do medo de enfrentar os desafios postos pela própria modernidade; a capacidade de encarar o processo de envelhecimento com alegria, enfatizando seus prazeres e minimizando aspectos indesejáveis; a busca de realizações de desejos; a coragem de denunciar o desagradável são conquistas de vidas humanas que se permitiram buscar um outro sentido para o seu “estar-no-mundo”. Estes são valores conquistados que confirmam a possibilidade de se usar o espaço escolar como um possível lugar de recuperação de VIDA, para vidas que pulsam a anos e que o tempo ainda lhes concede a construção de mundos.
Além destas conquistas, deve-se enfatizar uma forma nova de estabelecer relações na sala de aula, como espaço restaurador de vidas, como ponto de encontro. Neste sentido, professores, também, estão experimentando uma maneira “subversiva” de estar-no-mundo, enquanto educadores comprometidos com o desafio de trabalhar junto à terceira idade. O resgate do lúdico contribui para a derrubada da “realidade”, denunciando-a pela contradição com o prazer, para que a esperança não morra, através da resistência da festa. Ou seja, o comprometimento dos professores, frente ao desafio de resgatar VIDA em vidas humanas de velhos e velhas, tem favorecido a busca de caminhos não convencionais para as experiências construídas em sala de aula. Por isso, estar num projeto como este, engendra sempre o degustar e o saborear de novas alternativas, de possibilidades diferentes de fazer o igual, o rotineiro. A oportunidade de experimentar, de partilhar com o colega as frustrações, as inquietações e vitórias e o prazer de co-habitar o espaço escolar com os alunos, têm favorecido aos professores um construir de VIDA no interior da instituição educativa. Ou seja, ao se desprender das amarras do planejamento convencional, ao estabelecer relações afetivas que ultrapassam as explicações rotineiras, os professores estão construindo uma maneira nova de fazer Educação. É o compromisso não-dito de fazer, por velhos e velhas, o que, certamente, estão fazendo por eles mesmos. Redefinir valores, pensar o tempo e pensar-se como ser imerso num mundo que clama por novos significados.
Educar é um ato humano por excelência, em que a intenção se faz presente, e a ação se desencadeia diante do desejado, do imaginado. Assim foi a elaboração deste projeto educacional para a terceira idade. Gerado pela paixão, e conduzido pela certeza de que estar no mundo da educação é muito mais que reproduzir conhecimentos. É propiciar a construção de seres que habitam, que dão significados às suas vidas. É oportunizar o surgimento do ser sujeito e do ser compromissado com o seu mundo, com seus valores, com suas transformações. Imaginar velhos e velhas frequentando o espaço escolar, partilhando a sala de aula, os corredores com outros velhos e outras velhas… Tornando este espaço escolar, também, um espaço de construção de uma qualidade melhor de vida para este grupo… Resgatando VIDA em vidas maltratadas e discriminadas pela sociedade capitalista. Estes e outros sonhos vão se convertendo em realidade. Aos poucos, o projeto inicial de educação para a terceira idade vai adquirindo um rosto, uma história como uma construção coletiva, partilhada por todos que o assumem com a mesma paixão e deixando rastros pelos espaços da cidade.