
A imaginação é uma das maiores dádivas do ser humano. Graças a ela, somos capazes de criar mundos inteiros dentro de nós, viajar para lugares que nunca visitamos, reviver momentos de alegria, projetar sonhos e soluções criativas para os desafios da vida. É a chama que impulsiona artistas, inventores, cientistas e todos aqueles que ousam ir além do que os olhos podem ver. Nesse sentido, a imaginação é bênção: expande nossos horizontes, alimenta nossa esperança e colore a realidade com novas possibilidades.
Mas, como toda força poderosa, a imaginação também tem seu lado sombrio. Quando se deixa guiar por inseguranças, medos ou ressentimentos, ela constrói cenários ilusórios que nos afastam da verdade. Pequenas suspeitas se transformam em certezas inventadas; lembranças se distorcem; hipóteses ganham contornos tão nítidos que passam a parecer reais. Assim, nasce o ciúme sem fundamento, o ódio que cresce no silêncio, o desejo de vingança alimentado por suposições. E, muitas vezes, essas criações da mente transbordam para a realidade, gerando conflitos, rupturas e dores que poderiam ter sido evitadas.
A imaginação, portanto, não é em si boa ou má — é, digamos, uma ferramenta. O valor que ela assume depende da forma como a usamos. Quando cultivamos consciência e discernimento, ela se torna ponte para a realização e para o entendimento. Quando a deixamos correr livre sem vigilância, pode se tornar prisão, distorcendo o mundo e nos afastando dele. Saber domá-la, direcioná-la e filtrar o que é real do que é apenas criação mental talvez seja um dos maiores desafios da vida. Afinal, a benção ou a maldição não está na imaginação em si, mas no uso que fazemos dela.
Por Guilherme Pereira Torres