A maior causa de fratura exposta é o acidente de motocicleta, que ultrapassa o número de fraturas de idosos
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT lançou um alerta para mostrar, que este ano, quando as mortes em acidente de motocicleta devem superar pela primeira vez as mortes de pedestres no trânsito, também será recorde o número de amputados e de incapacitados.
“Os dados mais recentes, de 2.008, indicavam 11 mil mortes de pedestres por ano, contra 10 mil mortes de motoqueiros, e a diferença diminui depressa”, diz o ortopedista Sergio Franco, que responde pelas campanhas de segurança da SBOT, “mas o que pouca gente leva em consideração é que 75% dos motoqueiros envolvidos em acidentes sofrem ferimentos e o governo gasta 8 bilhões de reais por ano no tratamento desses acidentados”.
Embora na maioria dos acidentes com motos, que provocam ferimentos em 500 mil pessoas por ano as vítimas sofram apenas escoriações, os médicos atendem a milhares de casos em que há fratura da tíbia, seguindo-se pela ordem de frequência fratura de ossos da mão e de crâneo, esta última menos comum após a universalização do uso do capacete.
“Os ortopedistas vivem diariamente casos como o que atendi, em que precisei contar ao paciente, que tivera a perna esmagada, que seria necessário amputá-la, como também que sua namorada, que ia na garupa, tinha morrido”. Só os profissionais que trabalham em Pronto Socorro sabem como é difícil explicar a um pai que o filho motoqueiro morreu, ou que, tendo apenas 18 anos ficará paraplégico por toda a vida, diz o médico, “e é pior quando após meses de tratamento um paciente diz que não aguenta mais o sofrimento para tentar salvar a perna e prefere que a amputação sumária”.
Para Sergio Franco, as estatísticas não mostram o sofrimento envolvido nos acidentes de motos, e cita a tese de José Otávio Hungria, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, segundo a qual e encontrou em sua tese que a maior causa de fratura exposta é o acidente de motocicleta, que ultrapassa o número de fraturas de idosos em decorrência da osteoporose. “Atrás de cada número há um drama pessoal”, insiste, “e o profissional de saúde é afetado emocionalmente pelo sofrimento que acompanha”. Ele lembra que cair de uma moto a 72 quilômetros por hora corresponde à queda do sexto andar de um prédio, como ensina o professor de Física, Beraldo Neto. “Imagine o estrago no corpo humano, lançado sobre o asfalto”.
O alerta da SBOT foi feito também por causa da recente divulgação pelo Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, que em 46% das cidades brasileiras as motocicletas superam os automóveis e a tendência é crescente, pois hoje se financia uma motocicleta a partir de R$ 100,00 mensais. A preocupação da SBOT é que não há uma resposta adequada do governo para o aumento explosivo do número de mortes em acidentes de motos, que cresceram 1.000% em 10 anos.
“O Contran determinou a obrigatoriedade de curso de capacitação para mototaxistas e motofretistas (o nome oficial dos motoboys), mas as estatísticas mostram que esses motoqueiros, profissionais experientes, se envolvem menos em acidentes”. Para a SBOT, é preciso aumentar a fiscalização de velocidade, pois a maioria dos radares não multa a moto, pela ausência de placa dianteira e copiar a legislação de outros países, onde com menos de um ano de carteira, o motorista não pode trafegar em estradas nem ultrapassar determinada velocidade.
Caso contrário, diz ele, a epidemia de mortes de motoqueiros vai continuar se alastrando, à medida em que mais cidades brasileiras se aproximarem da situação de Tefé, no Amazonas, por exemplo, onde já trafegam nove motocicletas para cada automóvel.
Fonte: DOC PRESS