Olá, amigo e amiga que nos acompanha,
Ao longo desses anos que estamos juntos, por várias vezes falamos de inflação. Já antecipamos algumas altas e algumas quedas nos índices de inflação. Consequentemente, também já anunciamos altas e reduções na Taxa Selic. Mesmo porque, como vocês sabem, a Selic é considerada a taxa básica de juros da economia, que é o principal instrumentos de política monetária utilizado pelo Banco Central do Brasil (BCB) para controlar a inflação.
Em geral, a Selic e a inflação possuem uma relação inversa, mas que não é proporcional. Se os índices de inflação começam uma tendência de alta, o Comitê de Política Monetária (Copom) faz uma avaliação do cenário atual e futuro e, considerando vários fatores, pode aumentar a Taxa Selic, para conter o avanço dos índices inflacionários no futuro. O contrário também ocorre. Se o Copom perceber uma desaceleração da atividade econômica e uma redução nos índices inflacionários, ele pode reduzir a Selic para compensar essa desaceleração.
No Brasil, nós já vivenciamos todos os cenários possíveis tanto de índices inflacionários quanto os de Taxa Selic. A Figura 1 apresenta uma comparação entre a Meta Selic (% a.a.) e o IPCA (% acumulado em 12 meses), na data da reunião do Copom, no período de janeiro de 2012 a agosto de 2021.
Como você pode ver na Figura 1, no período analisado, Meta Selic sempre ficou acima da inflação acumulada. Em média, a inflação era equivalente a quase 80% da Selic no período analisado. Mas a partir de junho de 2020, essa relação foi se invertendo. A partir de agosto de 2020 a inflação acumulada em 12 meses se tornou muito maior do que a Taxa Selic. Nos meses de dezembro de 2020, janeiro de 2021 e maio de 2021, a inflação medida pelo IPCA atingiu a máxima, ficando 2,3 vezes maior que a meta da inflação. Essa é uma situação inusitada para o país pois, historicamente, a Taxa Selic sempre foi usada para conter os avanços inflacionários.
De modo geral e, de forma muito simplista, essa situação pode ter uma justificativa fundamentada, por exemplo, nas consequências causadas pela Pandemia da COVID-19. Entretanto, economicamente, a incerteza tem ganhado cada vez mais espaço no cenário econômico.
Figura 1 – Comparativo entre a Meta Selic (% a.a.) e o IPCA (% acumulado em 12 meses), na data da reunião do Copom, de janeiro de 2012 a agosto de 2021.
Para alguns analistas de mercado, o Banco Central do Brasil deve fechar o ano com a Taxa Selic em 8% a.a.. Percentual ainda distante do que o Brasil vivenciou por exemplo em 2015, período em que a inflação era equivalente a que temos hoje (em que o acumulado gira em torno de 9% ao ano) e a Taxa Selic era da ordem de 14,25% a.a.
Claro que os tempos são outros. Entretanto, não se pode negar que um dos principais problemas que estamos vivendo hoje está muito além da inflação e da Taxa Selic. Nosso principal problema é a incerteza.
Em tempos recentes, o Brasil nunca vivenciou tamanho período de incerteza. Não se sabe o que vai acontecer na economia, na política, na saúde ou em qualquer outra área estratégica do nosso país. Essa situação faz com que os mercados fiquem extremamente voláteis. Um exemplo disso é a volta do aumento consecutivo da cotação do dólar, a queda das cotações das ações negociadas na bolsa de valores e a piora das projeções econômicas.
De acordo com a média das previsões de mercado, divulgado por meio do Boletim Focus, a expectativa é de redução nas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) para 2021 e 2022. Fato que é potencializado pelo risco fiscal e político-institucional, limitando portanto, os novos investimentos e o crescimento futuro da nossa economia.
De acordo com os economistas do maior banco privado brasileiro, 2022 será um ano de baixo desempenho da economia. Isso porque, segundo esses profissionais, o PIB esperado deve reduzir de 1,5% para 0,5% e a taxa de desocupação deve subir de 12,1% para 12,5% até dezembro de 2022. Sem falar que, a situação fiscal do país poderá ser uma das piores dos últimos 25 anos.
Para deixar 2022 ainda mais tenso, ainda teremos a realização de um pleito eleitoral que tem tudo para ser extremamente conturbado. Ou seja, os elementos que se apresentam no último trimestre de 2021 podem comprometer completamente o ano de 2022. Portanto, não se esqueça da nossa velha dica: guarde o que puder porque, infelizmente, não sabemos o que pode acontecer no próximo ano.
Abraço a todos e até nosso próximo encontro!
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valério