Depois de entregar o Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tem investido em viabilizar que as dez iniciativas vencedoras sejam colocadas, de fato, em prática a fim de evitar ou minimizar os impactos das mudanças climáticas.
Para isso, três das soluções inovadoras foram testadas na semana passada como parte do Programa de Aceleração do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), parceiro da ALMG na premiação.
No último dia 24 de março, a proposta da BeFert Nutrição Orgânica, de Uberlândia (Triângulo), esteve em foco. A startup produz bioinsumos a partir da criação de insetos para recuperar áreas degradadas, conservar solos e induzir resistência na plantação ao combater pragas.
Na última sexta-feira (28), foi a vez da Green Growth, startup de Viçosa (Zona da Mata), e da Saltica, de Belo Horizonte. A primeira utiliza inteligência artificial e drones para diagnósticos precisos e pulverização localizada na cafeicultura mineira. Os testes foram feitos em Cajuri (também na Zona da Mata).
Já a segunda trabalha com uma ferramenta agregadora de dados locais, regionais e globais, a qual mensura riscos climáticos e previne perdas causadas por eventos extremos. Os testes ocorreram em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Outras duas iniciativas já passaram pela chamada Prova de Conceito (ou PoC, do inglês Proof of Concept). Trata-se de um teste da viabilidade prática das soluções apresentadas, apontando suas suscetibilidades e necessidades de aprimoramento.
“A ideia é sempre, como um programa de aceleração, acelerar essas soluções para que se tornem cada vez mais maduras, tanto em termos mercadológicos quanto técnicos.”
Lucas Marinho
Analista de Sustentabilidade do BH-TEC
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A primeira visita da equipe do BH-TEC feita, na semana passada, foi a Uberlândia para conhecer a horta comunitária do Bairro Pacaembu, em Uberlândia.
O bioinsumo desenvolvido pela BeFert a partir da criação de um inseto chamado tenebrio molitor ou larva da farinha tem sido utilizado no local.
Carlos Eduardo Pereira, voluntário da horta, contou que conseguiram o adubo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a experiência tem sido boa. “Aqui tudo é orgânico”, afirmou.
Produzido no Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras da UFU, o bioinsumo pode ter essa finalidade. Mas, segundo o CEO da BeFert, Kaio Sardinha, a expectativa é ampliar o negócio a partir do programa de aceleração, apesar dos desafios.
“O mercado do agronegócio é tradicional e há barreiras para a entrada de um produto disruptivo como o nosso.”
Kaio Sardinha
CEO da BeFert
Na criação da larva da farinha pela BeFert, os insetos são alimentados com resíduos industriais (farelo de trigo, por exemplo), e vão se desenvolvendo. Depois da decomposição daquela matéria orgânica, é feita a separação do que é excreto do inseto, usado como insumo para a plantação, a partir do processo de peneiramento.
Outra visita foi à lavoura de café do Sítio Rochedo, na zona rural de Cajuri. A propriedade é de três irmãs que iniciaram a produção em 2017. Mas, desde o ano passado, passaram a contar com assistência para fomentar o negócio, reduzir custos e impactos ambientais.
O serviço da startup Green Growth inclui o georreferenciamento da área. Além disso, segundo Breno Guedes, sócio da empresa, um drone é usado para coletar imagens do cultivo. Essas imagens permitem avaliar a saúde da planta a partir de índices que medem a coloração e o nível de clorofila, quantidade de água na plantação e presença de ervas daninhas.
Posteriormente, os dados são inseridos no computador e processados por um programa que interpreta as informações por meio da inteligência artificial. Mapas com diagnósticos resultam desse processo e são capazes de orientar as cafeicultoras. Dessa forma, não precisam pulverizar toda a lavoura, a não ser que seja necessário.
De acordo com Emília Campos, uma das irmãs à frente da lavoura visitada, esse trabalho possibilita um melhor planejamento sobre o cultivo e, assim, redução de custos.
“A gente achava que tinha 15 mil plantas na área e, na verdade, a gente tem cerca de 10 mil. Então, a gente conseguiu economizar na questão dos custos com insumos. Hoje a gente planeja melhor a adubação por planta, de fertilizantes em geral.”
Emília Campos/Cafeicultora
Para Luiz Fernando de Oliveira, outro sócio da startup, ao reduzir o uso do agrotóxico na lavoura e a água utilizada, o produtor pode ter acesso a selos de sustentabilidade e, assim, abrir o mercado para a exportação.
O drone que vem sendo utilizado pela startup foi adquirido com os R$ 60 mil pagos pelo prêmio do Legislativo mineiro.
Os testes do programa de aceleração do BH-TEC também chegaram a Contagem, onde os esforços da startup Saltica se somam aos da prefeitura para evitar perdas causadas por desastres climáticos. Atualmente, 10% dos quase 700 mil habitantes da cidade vivem em áreas de risco. Uma delas é o Bairro Jardim Laguna.
Moradores de casas localizadas na Avenida João Gomes sofrem frequentemente com inundações em períodos de chuvas fortes. É o que relata Camila Marcela. Sua mãe tem um salão de beleza na residência.
“Toda vez que chove, o espaço alaga mais porque é no quintal. Então ela perde móveis, alicates. Ela também vende roupa de cama. Então, às vezes perde também as mercadorias. Quando dá para subir, a gente sobe. Mas às vezes não dá. É desesperador. A água vem de repente.”
Camila Marcela/Moradora do Bairro Jardim Laguna
A ferramenta desenvolvida pela startup utiliza coordenadas geográficas, dados globais e locais para classificar os riscos de diferentes ameaças em oito sub regiões de Contagem. São mapeadas situações que envolvem excesso de chuvas, de ventos, estresse por calor e secas prolongadas, dentre outras situações. E são feitas projeções de como esses riscos podem evoluir com o passar dos anos.
“A ideia é que essa ferramenta traga informações, que apesar de técnicas e específicas, possam ser de fácil entendimento para todos os envolvidos na cidade, para ajudar na tomada de decisões para as ações que realmente importam para quem mora aqui.”
Bárbara Muniz/Cofundadora da Saltica
A ferramenta será integrada ao Plano de Ação Climática já tocado pela Prefeitura de Contagem. Segundo a diretora de Projetos Ambientais Estratégicos da Prefeitura de Contagem, Walkyria Castilho, o poder público municipal tem trabalhado em vários eixos temáticos para fazer frente à situação. “ Por isso, o plano de ação vem sendo desenvolvido com outras secretarias”, acrescentou.
Fonte: ALMG