– O que irão fazer lá?
– Vamos comer coisas diferentes para nos fortalecer – respondeu um dos patos.
– Eu também quero ir.
– Mas, voando, como podemos levá-la?
– Vocês seguram com o bico as pontas de um graveto e eu mordo no meio.
– Tá certo, mas você não pode falar nada durante a viagem para não cair. Nós voamos bem alto, sabia?
E partiram em busca de novos alimentos. Lá de cima, a tartaruga vivia uma experiência maravilhosa, coisa que nunca pensou conseguir. De repente, ela avistou um parque de diversões com uma roda-gigante imensa, e acabou dizendo:
– Eu também quero andar…
Quando percebeu que se soltou do graveto, já era tarde. Ela caiu na rocha e morreu. Então, um pato falou pro outro:
– Demorou, mas sua inveja a matou!
Pois é, se a inveja e a ambição não existissem no coração do homem, a partilha no mundo seria completamente diferente. Santo Agostinho disse: “Buscai o suficiente para vós e não queirais mais, porque tudo o que excede o necessário, oprime e não eleva, pesa e não honra”.
Mas, como disseminar a caridade nos corações endurecidos pelo pecado da ganância? Sabemos que tudo começa pela oração, porém, com certeza, a prioridade ainda é o gesto concreto. O fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, Antonio Frederico Ozanam, falou: “Deixa a tua oração, se um irmão te pede um copo de água”. E, mais recentemente, Mário Quintana definiu bem aqueles que só pensam em si:
“Louco é quem não procura ser feliz com o que possui. Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de fome. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir o desabafo do amigo. Paralítico é o que não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. Diabético é quem não consegue ser doce. Anão é quem não deixa o amor crescer. E miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.”
Quem já sabia disso há dois séculos era São João Maria Vianney. Vivia em Ars, uma aldeiazinha de 230 habitantes, e somente pôde aprender a ler aos 18 anos de idade. Sentiu-se chamado para o sacerdócio, mas não foi capaz de seguir o curso normal de seminário porque não conseguiu dominar o latim e a filosofia. Mesmo assim, o bispo resolveu ordená-lo, embora achando que ele nunca teria discernimento suficiente para atender confissões.
Aconteceu exatamente o contrário. Padre Vianney revelou-se extraordinário apóstolo do confessionário, com luzes sobrenaturais que o faziam converter os pecadores e reconciliá-los com Deus. Começaram a vir peregrinos de toda a França e até do estrangeiro, desejosos de se confessarem ou lhe pedirem orientação.
Desde 1830 até sua morte, vinham anualmente 100 mil pessoas a Ars, o que perfazia uma média de mais de 270 por dia! Para atender a tanta gente, o zeloso pároco precisava passar de 12 a 18 horas diárias no confessionário. Levou uma vida muito sacrificada durante 35 anos. Foi canonizado em 1925, sua festa aconteceu em 4 de agosto e é venerado como padroeiro dos párocos.
É impressionante como tanta gente chegou ao Céu por dar exemplos cristãos fascinantes e, ainda hoje, aprendemos tão pouco. Quanto mais lutamos para melhorar de vida, mais pensamos em comprar e mais nos esquecemos do pobre. Até quando fecharemos os ouvidos para as necessidades dos que sofrem? Adianta ficarmos xingando os corruptos se o nosso dinheiro também não é partilhado?
O Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Emérito Bento XVI, um dia escreveu esta oração:
“Senhor Jesus Cristo, ajuda-nos não só a acompanhar-te com nobres pensamentos, mas a caminhar pelo teu caminho com o coração; mais ainda, com os passos concretos da nossa vida quotidiana. Liberta-nos do medo da cruz, do medo diante da troça dos outros, do medo que a nossa vida possa escapar-nos se não aproveitarmos tudo o que ela nos oferece.
Ajuda-nos a desmascarar as tentações que nos prometem a vida, mas cujas consequências nos deixam, no fim, sem objectivo e desiludidos. Ajuda-nos a não nos fazermos senhores da vida, mas a dá-la. Acompanhando-te pelo caminho do grão de trigo que cai na terra para dar muito fruto, ajuda-nos a encontrar, ‘perdendo a nossa vida’, o caminho do amor – que nos dá verdadeiramente a vida em abundância.”
Amém!