O dia Internacional de Combate ao Tráfico e o Abuso de Drogas foi comemorado nesta quarta-feira (26). Ambos os problemas são graves no país: o tráfico de drogas é o crime que mais condena por aqui, e de acordo com o 2º levantamento de nacional de álcool e drogas, feito em 2012, o Brasil é o maior mercado de crack do mundo, e o segundo de cocaína.
O secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques, ressalta que o enfrentamento às drogas é uma agenda muito desafiadora para toda sociedade. “Não é uma agenda somente de Governo; é de toda sociedade. O fenômeno das drogas, praticamente, se confunde com a história da humanidade. O ser humano sempre buscou transcender por meio do uso de algumas substâncias psicoativa”, comenta.
O secretário ainda pontua que na discussão sobre a temática das drogas é necessário pensar em ações intersetoriais de desenvolvimento da sociedade. “O governador Antonio Anastasia, no início desta sua gestão, já tinha no Plano de Governo, nas suas primeiras diretivas como governante do nosso Estado, a preocupação máxima com as questões das drogas, em todos os seus aspectos: aspectos de segurança, nos aspectos sociais, nos aspectos de saúde”, afirma.
Na área da saúde, Minas foi o primeiro Estado a ter aprovado a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), reconhecida pelo Ministério da Saúde. A Atenção Psicossocial foi elaborada para funcionar em rede. Isso significa que os serviços serão prestados de acordo com a complexidade dos casos e as ações de atenção serão compartilhadas entre todas as unidades.
A Rede é composta por Atenção Básica em Saúde, Atenção Psicossocial Especializada, Atenção Residencial de Caráter Transitório e Atenção Hospitalar. “A Atenção Psicossocial (RAPS) no estado tem como propósito garantir respeito aos direitos humanos, proporcionando autonomia e liberdade às pessoas. Busca diminuir os estigmas e preconceitos, garantindo o acesso e a qualidade dos serviços”, explica a coordenadora de Saúde Mental da SES, Tanit Sarsur.
A SES prevê para 2013, investimentos de R$ 17 milhões para o desenvolvimento de ações do Aliança pela Vida. O Programa, lançado pelo Governo de Minas em 2011, visa desenvolver medidas de enfrentamento aos problemas relacionados ao consumo e tráfico de drogas, sobretudo o crack. As ações são desempenhadas por meio de parcerias entre diferentes órgãos do Governo, municípios e entidades da sociedade civil.
Segundo a coordenadora, Tanit Sarsur, o Cartão Aliança pela Vida, faz parte do Programa e irá financiar o tratamento de usuários de drogas em Comunidades Terapêuticas. “O Cartão permite o financiamento de tratamento a usuários de álcool e outras drogas em instituições habilitadas, com o acompanhamento do município, que define a porta de entrada, equipe de referência para avaliação do paciente e o acompanhamento regular”, explicou.
O Estado financia anualmente o tratamento de 1,6 mil dependentes químicos. A expectativa é que, até o fim de 2013, o custeio seja feito somente por meio do Cartão Aliança pela Vida, que garante o repasse de R$ 900 mensais para comunidades terapêuticas.
“Hoje o Governo atua fortemente em aliança com outras secretarias, no caso principalmente de defesa, educação, assistência social e na Rede de atenção psicossocial, temos procurado cada vez mais fazer aquilo que é primeira missão do Estado no ponto de vista da saúde que é estender o braço e oferecer a vaga de tratamento. Talvez não tenhamos uma rede suficiente da escalada do fenômeno, mas é um alargamento de vagas muito grande, tanto ambulatoriamente através dos CAPS de álcool e drogas quanto através das unidades terapêuticas”, completa o Secretário.
Porém, aqueles que por vontade própria decidem sair do mundo obscuro que as drogas proporcionam, encontram centros de acolhimento de excelência, onde terão todo o apoio que necessitarem, em todos os níveis. O Centro Mineiro de Toxicomania (CMT) da rede Fhemig, em Belo Horizonte, é um exemplo: referência no tratamento de usuários de substâncias psicoativas, a unidade, que completa 30 anos em agosto, atende uma média de 300 pacientes por mês em regime de permanência dia.
No ano de 2012, foram atendidos no CMT 420 usuários de álcool (37,94%); 394 usuários de crack (35,59%); 152 usuários de cocaína (13,73%); 116 usuários de maconha (10,48%) e 25 de outras drogas (2,26%). Cerca de 92% destas pessoas são de Belo Horizonte e 8% de outros municípios do Estado. Segundo Raquel Martins, psicóloga e diretora da unidade, essas estatísticas correspondem ao uso isolado da droga: “o uso do crack e álcool associados, o que é uma tentativa do usuário de anular os efeitos exagerados de cada substância, aumentou muito, e isso não é registrado”, avalia Raquel.
De acordo com a diretora, um dos motivos que levou ao aumento vertiginoso do uso do crack na sociedade é a facilidade com que ele é produzido e vendido, fazendo com que muitos usuários virem pequenos traficantes: “em qualquer lugar montam ‘laboratório’ para fazer a droga. Além disso, é uma droga barata, mas como vicia rapidamente, a pessoa gasta muito mais dinheiro que com outra substância”, explica Raquel.
O crack chega rapidamente ao cérebro – em 10 a 15 segundos – e os efeitos, como sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia, e intensa euforia, duram apenas cerca de 5 minutos, o que também é mais uma causa que contribui para levar à dependência. “Desde 1997 atendemos usuários de crack. O vício mudou o perfil dos moradores de rua, e hoje há pessoas que têm família, casa, e estão na rua pela característica do uso da droga”, explica a diretora.
Para Raquel Martins, a internação de um dependente químico não se justifica caso ele não seja psicótico: “o único momento em que a internação involuntária é reconhecida é quando o usuário tenta se matar, ou matar alguém”, esclarece ela. A luta manicomial mudou a forma como os hospitais acolhem o usuário, e agora não se fica mais internado por longos períodos, como acontecia antigamente. Portanto, segundo a coordenadora, não faria sentido forçar a internação de um usuário de drogas neste âmbito, considerando que a média do tempo de tratamento da toxicomania é de três anos: “a pessoa vai sair do hospital, voltar a usar drogas e desacreditar o tratamento”, afirma Raquel.
Atualmente, no CMT, as famílias são praticamente “convocadas” para participarem do tratamento do parente – assim que chegam à unidade, elas recebem um cartão com o horário das visitas: “A família é quem suporta as recaídas do dependente, e as consequências que as drogas trazem”, diz Raquel. No local, as famílias têm um espaço para escuta e orientação, feitas por profissionais especializados.
A faixa de abandono definitivo do tratamento no Centro está entre 30% e 40%, mas segundo a psicóloga, esta porcentagem está dentro do que espera neste tipo de situação.
Em agosto de 2013, o CMT celebrará 30 anos de fundação, e como parte das comemorações, será realizada a XXIV Jornada de Trabalhos nos dias 28, 29 e 30 do mesmo mês, no auditório da Universidade Fumec. O tema será deste ano será “Os excessos na contemporaneidade: a dose de cada um”.
Fonte: Agência Minas