“Oi, Betão. Como estão as coisas por aí? Aqui a gente tá triste com o que aconteceu, mas vamos levando como a gente pode. Mas não é pra isso que tô te escrevendo, eu tô te escrevendo pra contar que todos os dias eu estava rezando o terço, e tava indo do jeito que eu queria. Eu pedia pra ser feliz na minha primeira família, pra que eu não sofresse com a saudade e que eu fosse um formando na minha escola. E tudo o que eu pedi aconteceu, até hoje eu tenho uma relação muito boa com a minha primeira família. A saudade vem de uma forma gostosa porque eu lembro das coisas boas que eu fazia e eu tento ensinar pro pessoal aqui.
Depois de uns dias na minha primeira casa, eu ia na igreja e o padre gostava muito de mim. Então ele sempre falava: ‘Vamos rezar pelo Felipe, pra que ele encontre uma família boa e pra que ele tenha um ótimo ano aqui com a gente’. E no fim de uma das missas, ele me deu um crucifixo lindo, que foi abençoado pelo Papa e eu o coloquei na minha correntinha.
Um dia depois, acharam uma família e eu fiquei entusiasmado, querendo conhecer eles logo… você entende. A mulher da minha primeira casa me disse que ela queria ficar comigo se eu não achasse uma família até o fim da semana e a representante disse que tinha gostado de mim também. E eu tinha adorado a casa e os filhos dessa representante, então eu já fui pra outra casa desenstusiasmado, porque eu achava que eu tinha duas casas muito boas pra ficar e eu ia pra uma outra.
Mas eu fui pra lá, fiquei triste, chorei à noite e falei: ‘Nossa Senhora da Agonia, me tire dessa agonia, eu estava tão feliz na outra família. Por favor, me ajude’. E antes de dormir, eu rezei o terço. No outro dia, eu liguei pra representante e falei que eu não tinha gostado, e perguntei se era verdade que ela podia ficar comigo. Ela falou: ‘Felipe, eu não sei, a escola aqui na minha cidade não quer aceitar outro intercambista. Eu te ligo mais tarde’.
Eu desliguei o telefone e rezei o terço aquele dia. Passaram algumas horas e ela me ligou que vinha me pegar na mesma noite pra eu ir pra casa dela, mas a escola não tinha dado a resposta se eu poderia estudar lá ou não. Todos os dias eu rezava o terço e falava: ‘Por favor, que eu vá estudar em Warrensburg’. Passaram uns dias e o diretor ligou e falou que eu não poderia ir.
Eu fiquei triste, mas mesmo assim agradeci a Deus e no outro dia eu rezei o terço. Mas eu não rezei no outro dia, e no outro, e no outro, até que eu comecei a ficar triste, com saudade de casa, desanimado com a minha escola.
Todos os dias eu ia pra escola meio xingando, não tinha muita paciência, tava pra baixo mesmo. Daí eu pensei: ‘Nossa! Jesus me colocou na casa que eu queria, me fez um formando, não estava deixando eu sofrer com a saudade e eu não rezei mais o terço!’.
Então, eu fui lá e rezei. No dia seguinte, veio um menino e me chamou pra sentar perto dele numa aula, eu fui e a gente ficou conversando. Ele me convidou pra ir a festas com ele, me convidou pra jogar beisebol, me enturmou com mais gente.
Sexta-feira eu fui pra escola animado, joguei um monte de jogos, fiz mais amizades. Daí, à noite, eu fui num jogo de futebol americano da minha escola. Minha família tá muito boa. Ah, e eu esqueci de uma coisa: meu irmão, aqui, tinha mudado o jeito dele comigo, daí depois que eu rezei o terço, ele sempre me convida pra fazer um monte de coisas. Agora ele tá como um irmão mesmo!
Eu não sei se você conseguiu sentir mais ou menos a história, mas eu tô mais do que convencido de que rezar o terço faz muito bem pra gente. Muito obrigado, porque foi você que falava, insistia pra eu rezar. Manda um beijão pra todo mundo aí, e pra você, um beijão especial. Felipe.”