Poucas vezes se viu, na história do Ocidente, tamanha crueldade “abençoada” por uma estrutura religiosa, cuja mensagem sempre foi de amor e tolerância. Ela se prestava, oficialmente, à eliminação das heresias que comprometessem a fé cristã. O Papa Paulo VI, num gesto muito próprio da sua personalidade corajosa e revolucionária, pediu desculpas ao mundo pela chacina de milhões de pessoas, a maioria delas inocente do que lhe atribuíram antes de serem queimadas vivas.
As milhões de vítimas não puderam se beneficiar desse gesto, mas certamente nós, cidadãos da pós-modernidade, podemos aprender com ele a não repetir mais, como Humanidade, tais aberrações.
A Inquisição teve início no sul da França, em 1184, e na verdade foi totalmente extinta apenas em 1965, com a desativação da “Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício”, em Roma.
Por séculos, um livro chamado “Malleus Maleficarum”, composto por dois inquisidores, Heinrich Kramer e James Sprenger, guiou os interrogatórios e as torturas praticadas pelos “homens de Deus”; ele é um manual perverso de como conseguir confissões rapidamente.
Os Inquisidores gozavam de imunidade e perdão divino antecipados, porque eram protegidos pela Bula Papal, um documento emitido diretamente pelo Papa da época. Ninguém tinha mais poder, e um poder mais terrível e cruel, do que os Inquisidores.
O que era inicialmente extermínio de heresias, logo se tornou uma perseguição encarniçada aos desafetos de algum Inquisidor, aos aleijados, aos ricos de quem o Inquisidor invejava os bens, a maridos que tinham mulheres bonitas e desejáveis, mas acima de tudo às mulheres, vistas como “bruxas sedutoras que faziam os homens pecar por luxúria!”
A paranoia coletiva tornou-se tão absurda, que bastava algum desastre natural para que a cidade atingida encontrasse rapidamente várias bruxas culpadas pela tragédia ou pela simples ameaça de tragédia.
Fogueiras iluminavam dia e noite essa época de trevas da Humanidade, como se fossem um apelo impotente por luz para os espíritos mais sadios da época.
Não deixa de ser uma vingança criativa, a atitude das mulheres de hoje: deixam o seu confinamento social através do trabalho e tornam-se donas do próprio corpo depois da revolução sexual.
Nós, as “bruxas modernas”, podemos agora honrar as promessas de dignidade e direito para o Feminino que as fogueiras da Inquisição queimaram!