Cerca de 200 professores da rede municipal de ensino estiveram presentes na Câmara Municipal de Itajubá, durante a 44ª Sessão Ordinária, para reivindicar seus direitos e repudiar as declarações do Prefeito sobre o direito dos recursos do FUNDEB e horas extras.
Os manifestantes apresentaram um ofício solicitando o direito a fala na tribuna popular da casa e foram representados pela professora Patrícia Carla de Souza. A profissional iniciou seu discurso enfatizando que muitas informações chegaram à população de forma distorcida, ou com lacunas, fazendo com que os cidadãos tivessem uma visão errônea e um julgamento equivocado a respeito da atuação dos professores na pandemia. Por isso, ela estava ali para relatar os fatos ocorridos durante o último ano e os trabalhos realizados neste período.
Patrícia afirmou que muitos docentes solicitaram a realização de capacitações para se prepararem para as novas demandas, mas foram ignorados. De acordo com ela, para a execução do ensino remoto, não foi possível que todos os professores utilizassem dos computadores disponíveis na escola, pois não havia quantidade suficiente para todos, e eles não podiam permanecer dentro da escola tempo o suficiente para realizar o trabalho necessário. Devido a isso, muitos deles utilizaram recursos próprios para conseguir trabalhar.
Além disso, ela alegou que cada escola se organizou dentro da sua realidade e os profissionais da educação se desdobraram para amenizar as consequências desse distanciamento na aprendizagem dos alunos, através de cursos de computação e o improviso de estúdios de gravação dentro de casa. Ainda assim, eles sofreram pressão por parte da Prefeitura e da população, cuja acreditava que os professores ‘não estavam trabalhando’.
Quanto ao retorno presencial, Patrícia afirmou não haver preparativos e medidas de segurança para que este acontecesse de maneira eficaz e, ainda assim, os professores foram submetidos a retornar para a escola. “Fomos obrigados a gerir os meios técnicos para a execução do nosso trabalho, porque as escolas não possuíam material para todos os professores utilizarem dentro do mesmo turno”, acrescentou.
“Buscamos esclarecer essas situações à luz da verdade. A valorização financeira que requeremos é uma devolução justa diante dos nossos gastos, um estorno dessa transferência de responsabilidade que sobre nós se assentou. Outro ponto importante que queremos esclarecer é a hora extra. A citada hora extra, atribuída como valorização do salário, nada mais é do que uma necessidade da prefeitura de pagar ao professor por trabalhar além da sua carga horária, para complementar a carga horária do aluno. Não abrimos mão do que legalmente nos é devido, e aguardamos com essa esperança teimosa, mais do que o mínimo, como forma de reconhecimento concreto, pelo trabalho que desempenhamos com tanta dedicação e excelência, apesar de tantas dificuldades e nenhum apoio”, declarou a professora, concluindo a sua fala na Tribuna Popular.
Em seguida, o Presidente da Câmara, Robson Vaz, deu início ao momento de fala dos vereadores com o seguinte discurso: “Quando se fala em apoio a rede municipal de educação, há muita falta de respeito em muitos sentidos, principalmente por não dar o apoio necessário, a estrutura necessária. Falta de respeito porque, em um momento de pandemia, todos sabiam que eventualmente as aulas retornariam, mas não se prepararam para isso. É falta de respeito achar que as aulas remotas eram responsabilidade somente do professor. O apoio deve ser feito de várias formas na estrutura do dia a dia”. Ele ainda alegou ter solicitado diversas informações sobre a situação dos servidores públicos e não obtido resposta do Poder Executivo.
A vereadora Andressa do Coletivo, por sua vez, declarou que é papel do Legislativo proteger os professores. “Nós, enquanto vereadores, somos a ponte de vocês até o Executivo, mas não conseguimos expressar tão bem quanto vocês conseguiram essa noite”, afirmou. Ela também falou sobre a importância da população abraçar a causa e que a Câmara continuará buscando melhorias para a educação, uma vez que o que os profissionais de ensino exigem são previstos por lei.
O vereador Rafael Rodrigues aproveitou o espaço para falar sobre a necessidade de ouvir os professores para que políticas públicas para a educação sejam desenvolvidas. “Um professor na vida do aluno é mais do que apenas um meio para atingir conhecimento. Ele é um formador, alguém capaz de construir bases sólidas, que contribui para o desenvolvimento do aluno enquanto indivíduo, cidadão e membro de uma comunidade. A valorização, portanto, do professor, é um dos primeiros passos para garantir uma educação de qualidade. Sua atuação tem impacto dentro e, principalmente, fora de sala de aula”, concluiu.
Além disso, os vereadores Pedro Gama, Tenente Melo, Markinhu Meireles, Chiquinho do Euzébio e Marcelo Krauss também se manifestaram sobre o assunto. Gama, em seu discurso, afirmou: “Quem não está satisfeito com a politica educacional do município não deve pedir contas, mas deve lutar para transformar a nossa educação, e vocês deram uma verdadeira aula sobre isso hoje (…) A fala nunca é apenas um verbo colocado de maneira errada, mas a representação da ausência de um projeto político para a educação do nosso município, e isso precisa ser transformado”.
Melo, por sua vez, disse ter vivido muito do que foi relatado pela professora Patrícia e que entende o tamanho do esforço realizado pelos profissionais para garantir o aprendizado às crianças. De acordo com o vereador, respeitar e valorizar os professores vai muito além de discursos bonitos, e agir é exemplo disso.
Markinhu Meireles manifestou sua disposição para buscar melhorias e os direitos que são cabíveis aos professores e declarou que dias melhores serão construídos para a educação, através do diálogo. Acrescentando à fala, o vereador Krauss abordou que, muitas vezes, é necessário um fato desagradável como o ocorrido para que todos parem, reflitam e passem a valorizar a classe de professores de Itajubá.
Após o pronunciamento dos vereadores, o Presidente enfatizou que a Câmara estará sempre de portas abertas aos profissionais do ensino. Durante a Sessão Ordinária, diversos professores se manifestaram em frente à Casa Legislativa, em resposta à fala recente do prefeito Christian Gonçalves.