O convidado do Memento Culturale desta semana é o músico e professor de História da MPB Ivan Vilela.
Ivan está atualmente ministrando um curso sobre a história da Música Popular Brasileira, no Auditório Antonio Rodrigues D”Oliveira – AARO, na UNIFEI. Uma das culturas mais ricas que temos no Brasil, segundo Ivan, tem origem no Caa Pir. Ele conta que essa história começa no Litoral de São Paulo, quando em 1953 chega o Padre Anchieta para iniciar o processo de catequese dos índios no Brasil.
Ao chegar ao Brasil, Padre Anchieta percebe que uma mesma língua, de base tupi-guarani, era falada em todo litoral e se emprenha em aprendê-la. O processo de catequese aconteceu por meios das músicas dos próprios indígenas, nas quais ele coloca textos da religião cristã, e que até hoje estão presentes na música caipira como cururu e cateretê.
Da mistura do índio com os portugueses nasceram os mamelucos, também chamados Caa Pir, nome também dado à cultura caipira e que se diferencia pela culinária, pela linguagem, pelo modo de viver, pela música, com inúmeros ritmos diferentes. “Nenhum outro gênero musical possui tantos ritmos diferentes”, comenta Ivan.
É preciso resgatar essa cultura caipira que faz parte da formação do brasileiro. O caipira não é atrasado, ele é uma forma clara de resistência ao sistema, sempre impondo novos padrões de consumo e buscando desestruturar a cultura que já existe para substituí-la por ele mesmo. Hoje se prega a busca pelo ter e não pelo ser. O caipira resiste a isso.
O caipira produz para sua própria subsistência, ele não tem a preocupação de juntar bens ou dinheiro e isso está relacionado às suas matrizes tupi e guarani, que são índios nômades e também à sua formação histórica. Os caipiras foram os bandeirantes que desbravaram a terra antes de ela ser ocupada pelos grandes fazendeiros e pelo Governo. É uma cultura intimamente ligada à natureza e que precisa ser preservada.
Fonte: Conexão Itajubá / Panorama FM