Desde que eu era pequeno, ela tinha verdadeira paixão por mim e eu por ela. Em 1983, quando tive trombose, ela me visitou todos os dias no hospital de Monte Sião. Quando pude andar novamente e fui até a sua casa, ela chorou como criança a me ver de pé. Falava comigo com sotaque italiano que me emociono só de lembrar.
Quando faleceu, em 1989, os filhos, noras e netos ficaram com os seus pertences – e não eram poucos! Ela guardava bonitos jogos de crochê, tinha relógios antigos e uma cristaleira cheia de peças vistosas. Todos pegaram alguma coisa, mas eu, quando soube da ‘partilha’, já não restava mais nada e não vi a ‘minha parte’.
Um ano depois, a casa foi vendida. Passaram-se mais alguns meses e eu me lembrei que a nona tinha uma imagem de São Sebastião num oratório pregado na parede do tanque de lavar. Conversando com a minha mãe, perguntei quem havia ficado com aquela imagem e ela me disse que não sabia. Fui até lá, perguntei à senhora proprietária a respeito e ela respondeu: “Tem sim uma imagem de santo lá no quintal. Se quiser, pode levar”. Eu nem pude acreditar que aquilo era verdade.
Hoje, no oratório com mais de vinte santos que tenho no quarto, a imagem de São Sebastião é a mais antiga e, segundo muitas pessoas que viram, é também a mais bonita – tem mais de 50 anos! Com certeza, a nona intercedeu a Deus para que ela fosse minha e eu rezo diante dela todas as manhãs.
Pois bem, embora com pouca cultura, minha nona sempre tomou decisões certas na vida: rezava demais; batalhou com dignidade para o sustento da família – quando foi rica e quando ficou pobre; sempre praticou a caridade; esbanjou amor e obediência ao nono; e nunca caiu em tentação de pecados mortais. Se não fosse assim, eu estaria agora contando passagens de sua vida? Eu teria o presente que ela me deixou? Ela chegaria ao final da ‘estrada’ que, com a ajuda de Deus, escolheu?
Tenho fé que vou encontrá-la no Céu e dar-lhe os parabéns pelas belas escolhas que fez. Quero dizer-lhe também que, mesmo após a sua morte, todos aplaudiram as decisões que tomou, baseadas em honestidade e confiança no Senhor. E espero contar-lhe ainda que meu pai aprendeu muitas virtudes com ela, me criou com o seu exemplo de homem temente a Deus e, eu, procurei orientar os meus filhos a seguirem pelo mesmo caminho.
Ela acreditou que tudo pode ser mudado pela oração e nunca confiou que o nosso destino já está traçado. Deus tem uma linda missão para cada um de nós, nos dá muitos dons para trilharmos nos bons caminhos e sempre nos chama à conversão. Uns aceitam o Seu chamado de amor, outros só O escutam na dor e, alguns, decidem caminhar sozinhos. Resolva, com oração, você também!