Com toda a certeza, estamos navegando em mares nunca dantes navegados. Pela primeira vez em minha vida, eu me vejo “presa” em casa por muitos dias, quiçá serão meses. Evidentemente que há uma grande parte da população que não tem como se resguardar em casa, muita gente tem que trabalhar. Resta a elas seguir o protocolo de guardar a distância de outras pessoas, não conversar, fazer o que tem que fazer e rezar porque vírus é algo que não se vê. Na verdade, não estamos seguros em lugar nenhum, pois não se é possível ficar cem por cento porta a dentro. Há outras pessoas a quem devemos atender. Nesta ida e volta não sabemos se continuamos a salvo.
Ainda há o complicador de divergência de pontos de vista. Há aqueles que defendem parar tudo, tudo, metrô, aeroportos, fábricas, etc para que todos se escondam e se protejam. E há infectologistas que são contra o isolamento sem sintomas do vírus, que vai gerar o apagão econômico. Não sei o que caminha mais rápido, se o vírus ou o colapso econômico. Não sei se faço isso ou aquilo. Parem o mundo que eu quero descer.
Enquanto isso mudamos os hábitos. Tivemos que nos adequar aos novos comportamentos. Olho com tristeza nossas máscaras perto da porta, apetrechos indispensáveis para os novos tempos. Nossos sapatos já ficam para fora. Lá se foi o tempo em que eu escolhia as sandálias que combinavam com este vestido ou blusa. Agora é um calçado só, aquele que está do lado de fora do apto.
Bem, vi hoje no whatsapp uma mensagem que me tocou muito: uma família, pai, mãe e filho dentro de uma gaiola enquanto o garotinho observa os pássaros voando do lado de fora. Tirando o “Cata Veio”, não há nada que nos proíba de sair. Ainda não. Procuramos ficar o máximo possível trancafiados em nossas casas. Somos prisioneiros sim, porém, acima de tudo, do medo, do pânico. Nós, seres humanos somos prisioneiros de tanta tralha de que não precisamos e nem percebemos que as portas estão abertas.
Senti tanta inveja dos pássaros voando livremente, indo para onde apraz seu desejo. Senti inveja dos pássaros que buscam as alturas, “que não semeiam nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai do Céu as alimenta”.