Com certeza, esse tipo de tentação não mexeria comigo porque tenho consciência que nenhuma riqueza no mundo é maior do que as bênçãos que vêm do Céu. Se eu não fosse tão privilegiado em saúde, paz na família e fé no coração, talvez desse mais valor às coisas materiais, mas, graças ao bom Deus, já possuo muito mais do que mereço.
E se algum amigo dissesse que ‘venderia a sua fé’ para resolver uns problemas, eu pediria que me contasse que tipo de problema é maior do que o amor de Jesus Cristo por nós – e duvido que o indivíduo pudesse se explicar. Na verdade, quem troca o nosso Salvador por dinheiro, compraria um lugar bem quente para viver na eternidade – e ainda pagaria caro por isso!
Mas, falando em ambiente quente, estou lembrando da visita que um vicentino fez a outro que havia se afastado das reuniões da conferência. Sentaram-se em frente a uma lareira e, sem conversarem, ficaram olhando a madeira queimar. Depois de algum tempo, aquele que foi fazer a visita pegou uma vara e separou uma brasa das demais.
Quando aquele pedaço de lenha se esfriou e ficou com aspecto de carvão, o vicentino visitante voltou a empurrá-lo junto das brasas ardentes e, num instante, eles perceberam que se acendeu novamente. Então, o dono da casa disse ao confrade: ‘Amanhã, estarei junto com vocês no trabalho de caridade’.
Pois é, a nossa união dá força à missão. A fé de um cristão aquece o coração do outro num ritmo acelerado e inesgotável! Sou testemunha disso porque já viajei bastante – dando palestras e participando de encontros católicos – e, mesmo em cidades grandes como Brasília, São José dos Campos e Belo Horizonte, a dinâmica é a mesma: quando alguém fala em nome de Deus, muitos se emocionam e arregaçam ainda mais as mangas para construírem o Reino.
Quase todos que procuraram e experimentaram a misericórdia Divina, não a trocam por nada. Nem seria justo que a substituíssem, porque o nosso Pai sempre nos socorre quando O invocamos, não é mesmo? Se rezamos, Ele nos ouve; se nos arrependemos dos pecados, Ele nos perdoa; se caímos, Ele nos estende a mão; enfim, que tipo de filho trai um Pai assim?
Mas, como somos fracos na missão que recebemos pelo batismo, é bom não darmos chances ao pecado e sempre nos envolvermos com os trabalhos na comunidade. Lá, quando o grupo é comprometido com a evangelização, a chama da caridade não se apaga e Jesus permanece presente. Assim, fica muito difícil alguém desistir da fé e resolver enfrentar o mundo sozinho – mesmo com bastante dinheiro no bolso!
E eis outra pergunta que lhe faço agora: ‘Existe alguém que seja mais seu amigo do que o próprio Cristo?’. Enquanto pensa, vá lendo a história de Vladimir Petrov, um jovem prisioneiro de um campo de concentração no nordeste da Sibéria.
Ele tinha um companheiro chamado Andrey e ambos sabiam que daquele lugar poucos saíam com vida, pois o suprimento que davam aos prisioneiros políticos não os mantinha vivos por muito tempo. Por isso, era natural roubarem comida uns dos outros para não morrerem.
E Vladimir escondia, numa pequena caixa, alguns biscoitos, um pouco de manteiga e açúcar – coisas que sua mãe lhe havia mandado, clandestinamente, de quase três mil quilômetros de distância! Guardava-os para quando a fome se tornasse insuportável e, como a caixa não tinha chave, ele a levava sempre consigo.
Certo dia, Vladimir foi despachado para um trabalho temporário em outro campo e, como não sabia o que fazer com a caixa, Andrey lhe disse: ‘Deixe-a comigo que a guardo. Pode estar certo de que ficará a salvo’.
Um dia após a sua partida, uma tempestade de neve tornou intransitáveis todos os caminhos, impossibilitando o transporte de provisões. Só dez dias depois, os caminhos foram reabertos e, voltando ao lugar de origem, Vladimir não viu o amigo entre os demais. Dirigiu-se ao capataz e perguntou: ‘Onde está Andrey?’. Surpreso, ouviu a resposta: ‘Enterrado, mas, antes de morrer, pediu-me que guardasse isto para você’.
Vladimir sentiu um forte aperto no coração. Abriu a caixa e, dentro dela, ao lado dos alimentos intactos, encontrou um bilhete dizendo: ‘Escrevo enquanto posso mexer a mão. Não sei se viverei até você voltar porque estou horrivelmente debilitado e sem alimentos. Se eu morrer, avise a minha mulher e meus filhos. Deixo as suas coisas com o capataz. Espero que as receba intactas. Seu amigo, Andrey’.
Mais uma vez, este relato prova que uma amizade duradoura só se constrói com fidelidade e honestidade recíprocas. Da parte de Deus, isso é inquestionável… e de sua parte? Sugiro que prove a verdadeira amizade que tem por Ele prometendo que nunca desistirá da sua fé.