Nos dois últimos dias, então, cheguei a temer que tudo se fechasse no país, como se o nosso destino fosse decidido pela solução do impasse que transtornou emocionalmente o país.
Estamos vivendo uma era preocupante de irracionalidade, ou seja, de posições políticas apoiadas fortemente em humores emocionais, e não na escolha criteriosa de argumentos, e na análise racional de propostas.
De parte a parte, aliás. Não há como um grupo condenar o outro por sectarismo! Todos estamos (e esse é um ano eleitoral) à mercê das emoções de “Adoro” ou “Odeio”.
Isso é preocupante!
É desse material psíquico coletivo que se fazem as guerras e as revoluções ou que se fez o nazismo.
São governantes que, talvez de início convictos dos valores que dizem defender, sucumbem à tremenda força do poder.
Mas a partir daí, pouco importa o que os passa a mover: uma ideologia, o enriquecimento pessoal, a manutenção do mando a longo prazo, pouco importa.
Importa é que o indivíduo passa a se ver como Salvador, como Guru, como Representante Ungido de desfavorecidos pela sorte ou pelo sistema. Como tal, sente-se por direito acima da lei e constrói uma verdade própria que beira a alucinação. Não há mais respeito nem consideração por provas nem por evidências ou denúncias que não correspondam à “verdade” eleita pela alucinação.
Estamos, então, à frente de uma psicopatologia com alto potencial de contaminação psíquica coletiva: pessoas até agora razoáveis nos seus valores passam a permitir internamente que tudo se perdoe porque algumas boas coisas foram feitas, lembrando o antigo “rouba mas faz” de triste memória…
Quando alguém se autodeclara uma lenda, uma ideia, abrindo mão espontaneamente da condição de ser humano, estamos em perigo enquanto sanidade mental coletiva.
E temos exemplos terríveis do que acontece quando um líder se autodeclara sobre-humano.
A pergunta que se impõe agora, nos tempos que virão, não pode deixar de ser: “Conseguirá a sociedade brasileira recuperar o equilíbrio psíquico e retomar a construção de um país ético, a quem a corrupção de direita ou de esquerda se torne para sempre inadmissível, e para quem a justiça social seja a meta de todos?”