Mário de Andrade escreveu:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, roeu até os caroços das outras.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos; quero a essência, minha alma tem pressa! Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminharei perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”
Mário de Andrade tem razão: cada vez mais, precisamos valorizar o essencial, como nesta história que a prima Joseane me enviou de Amparo:
Um filho chegou para seu pai e perguntou:
– Pai, por que temos que reler a Bíblia se não conseguimos memorizar tudo e, quando passa certo tempo, acabamos esquecendo?
O pai olhou para um rio que se via do quintal e depois pediu ao filho:
– Pegue aquele cesto de junco, vá até o rio, encha-o de água e traga aqui.
O filho olhou para o cesto sujo e obedeceu. Andou dez minutos até o rio, encheu-o e voltou. Como o cesto era cheio de furos, a água foi escorrendo e, quando ele chegou em casa, já não restava nada.
O pai perguntou-lhe:
– Então, meu filho, o que você aprendeu?
– Aprendi que cesto de junco não segura água.
O pai ordenou-lhe que repetisse o processo e, quando o filho voltou com o cesto vazio, o pai questionou:
– E agora, meu filho, o que você aprendeu?
– Que cesto furado não segura água!
O pai, então, continuou ordenando que o filho repetisse a tarefa e, depois da quinta vez, o filho estava exausto de tanto ir e voltar.
E o pai lhe perguntou novamente:
– Então, meu filho, o que você aprendeu?
– Não entendi o porquê de me mandar ir e voltar, pai, mas percebo que aquele cesto sujo agora é um cesto limpinho!
Com um sorriso afetuoso, o pai falou:
– Está vendo, filho? Apesar do cesto não segurar a água, a repetição constante de enchê-lo acabou deixando-o limpo.
Daí, o filho retrucou:
– Pai, o senhor me fez andar várias vezes para me mostrar uma forma de limpar o cesto?
– Você havia me perguntado por que é necessário ler constantemente a Bíblia. Hoje você aprendeu que, assim como o cesto sujo pôde ser limpo mesmo sem segurar a água, esse processo de leitura da Bíblia deixa a sua mente limpa e em sintonia com o nosso Criador.
Bem, neste artigo duas lições já foram passadas: escolher o essencial para bem viver e deixar-se conduzir pela Palavra de Deus. Em princípio, isto já basta, mas precisamos saber lidar com situações novas. Também por este motivo a Bíblia é tão extensa e rica nos ensinamentos. Requer que continuemos a ler partes que ainda não sabemos, pois quase tudo se transforma com o tempo. Eis um exemplo interessante:
Certa vez, duas moscas caíram num copo de leite. A primeira era forte e valente. Assim, logo ao cair, nadou até a borda do copo, mas como a superfície era muito lisa, não conseguiu escapar. Acreditando que não havia saída, a mosca desanimou, parou de se debater e afundou.
Sua companheira de infortúnio, apesar de não ser tão forte, era tenaz e continuou a lutar. Aos poucos, com tanta agitação, o leite ao seu redor formou um pequeno nódulo de manteiga no qual ela subiu. Dali, conseguiu levantar vôo e sair do copo.
Tempos depois, a mosca tenaz novamente caiu num copo, desta vez cheio d’água. Como pensou que já conhecia a solução daquele problema, começou a se debater na esperança de que, no devido tempo, se salvasse. Outra mosca, passando por ali e vendo a aflição da companheira, gritou:
– Tem um canudo ali, nade até ele e suba.
A mosca tenaz respondeu:
– Pode deixar que eu sei como resolver este problema.
E continuou a se debater mais e mais até que, exausta, afundou na água.
Pois é, sabemos que soluções do passado, em contextos diferentes, podem transformar-se em problemas. Quantos de nós, baseados em experiências anteriores, deixamos de observar as mudanças ao redor e ficamos lutando inutilmente até afundar em nossa própria falta de visão! Velhos hábitos que nos levaram ao sucesso nos fazem perder oportunidades de evoluir.
Os mais experientes na fé sabem reconhecer essas transformações para fazerem suas escolhas.