Pomada submetida a irradiação de luz é capaz de matar células cancerosas em testes com gatos
Testes feitos em gatos com câncer de pele comprovaram a eficácia da nova pomada em provocar a morte das células cancerosas quando submetida a uma fonte de luz específica (foto: Claudia Rodrigues Emilio).
Um grupo de pesquisadores brasileiros acaba de patentear uma pomada que poderá ser usada para tratar o câncer de pele, doença de grande incidência no Brasil. Submetido à irradiação de uma fonte de luz específica, o produto é capaz de matar as células cancerosas. A eficácia da terapia foi comprovada em testes com gatos.
Esse tipo de tratamento, que combina a emissão de um feixe de luz e a aplicação de um fármaco fotossensível, é chamado de terapia fotodinâmica. Desde o primeiro estudo sobre a aplicação dessa terapia em tumores humanos, publicado em 1978, seu uso para tratar o câncer vem crescendo em todo o mundo.
A abordagem desenvolvida agora consiste na aplicação, sobre a região afetada pelo tumor, de uma pomada que estimula as células a produzirem uma substância sensível à radiação luminosa. Depois, a região é exposta a uma fonte de luz com comprimento de onda capaz de provocar uma reação com essa substância e gerar compostos químicos (chamados espécies reativas do oxigênio) que causam a morte das células tumorais.
“Como a aplicação da pomada é tópica e a irradiação da luz é localizada, não observamos toxicidade sistêmica nos animais estudados”, ressalta a veterinária Claudia Rodrigues Emilio, que realizou a pesquisa sob orientação da física Denise Maria Zezell, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen-Cnen/SP). “Também não existem contra-indicações para aplicá-la mais de uma vez e combiná-la com outros tipos de tratamento, como a cirurgia.”
Resultados promissores
Durante a pesquisa, realizada entre 2005 e 2008, foram testadas duas pomadas com composições diferentes em 19 gatos com câncer de pele. A formulação da pomada que obteve os melhores resultados foi patenteada e, no futuro, deverá ser comercializada. Além do grupo do Ipen, participaram do estudo pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais.
Emilio conta que a maior parte dos animais usados nos testes respondeu totalmente ao tratamento, mas alguns tiveram resultados parciais. “É possível que, com mais aplicações, ocorra o desaparecimento completo dos tumores.”
Segundo a veterinária, a nova pomada tem custo mais baixo em comparação com outras desenvolvidas para uso em terapia fotodinâmica contra câncer de pele. A pesquisadora acredita que o produto poderá ser usado tanto em medicina veterinária quanto humana, pois os mesmos protocolos de pesquisa usados em animais poderão orientar testes em pessoas.
No Brasil, alguns hospitais já utilizam a terapia fotodinâmica para o tratamento de certos tipos de tumor. “Ela é mais indicada para tumores mais iniciais e superficiais”, explica Emilio. “Alguns estudos também associam seu uso com a cirurgia: a maior parte do tumor é retirada e as células restantes são tratadas com terapia fotodinâmica.” Para tratar órgãos internos, a substância fotossensibilizadora é injetada e a luz é levada ao tumor por fibra óptica.
Emilio considera que mais pesquisas são necessárias para permitir uma maior aplicação da terapia fotodinâmica. “O desenvolvimento de uma pomada eficiente e com custo mais baixo pode aumentar a utilização clínica da terapia”, avalia a pesquisadora, acrescentando que os estudos com o novo produto continuarão.
Fonte: Ciência Hoje