Fazendo um balanço de minha vida desde o inevitável confinamento pelo COVID 19, aprendi algumas coisas que já sabia, mas vivo me esquecendo. Ficar em casa sempre foi um prazer para mim. Quando tinha algum compromisso, mesmo aqueles que sempre adoro, eu me aprontava meio preguiçosa, depois curtia, é claro, mas ao voltar para casa, que gostosura, como dizia minha mãe. Gosto da minha toca.
Uma coisa é certa: aquele ou aquilo que perdemos sempre será mais precioso quando reencontrado do que quando o tínhamos à mão, diante de nossos olhos e de nosso coração. Eu gostava de ficar em casa porque gostava, porque queria, porque podia, agora já não é bem assim. Sabemos que é melhor nos resguardarmos para não adoecermos. Então algo me impede de sair. Já não sou tão livre. Contudo, a gente se adapta. Dispensei temporariamente minha ajudante, remunerada, para que não ficasse prejudicada. Meu marido e eu dividimos as tarefas. E vamos que vamos.
Impossível não tecer reflexões. O mundo está tomando novos rumos. Este vírus vai passar, porém outros virão, inimigos invisíveis. Os estragos na Economia também vão matar muitas pessoas, talvez mais do que o próprio Corona. Ainda que sejamos otimistas, um fio de medo sempre perpassa pela alma. Queiramos ou não, paira no ar uma insegurança que nos incomoda.
Pouco antes da Pandemia meu marido trouxe algumas orquídeas da casa de minha enteada que se mudou. Desde há muitos meses fico olhando as orquídeas sem flores. Cá pensei comigo: disso não vai sair flor não. Mas como a vida sempre pode mudar, eis que um dia no início do confinamento, uma das orquídeas deu ares de abrir suas primeiras flores, a princípio tímidas. Mas minha alegria foi de quem recebe um presente de Deus e o era de fato. Sempre me lembro de que foi Deus quem nos deu a Terra para morar, a Lua para admirar e as Flores para nos alegrar. Eu me senti uma rainha em dia de glória! Criei alma nova, outra vez como dizia minha mãe.
Em poucos dias, a orquídea já se apresentava em sua roupagem mais rica, de um amarelo vivo incrivelmente belo. Durante este confinamento esta flor tem me ensinado a ser paciente. Assim como ela, guardo dentro de mim um tempo de espera. A gente precisa aprender a enxergar além dos olhos físicos, como fazem os santos, os poetas e os artistas. Não foi assim que Michelangelo enxergou David e Moisés enquanto observava o bloco de mármore? Sempre que estou diante da página em branco do computador, eu ouso e me pergunto que poema sairá de mim para a tela. Então, as flores já estavam dentro da orquídea este tempo todo. Também dentro de nós estão tesouros de valor incalculável com sua hora para serem externados.
Neste confinamento percebo que é necessário sermos humildes e cultivarmos a paciência porque a vida que passa tem muito a nos ensinar. Eu já sabia, mas aprendi de novo que entre a manhã e a tarde se muda o tempo, que a vida pode mudar num piscar de olhos. Eu já sabia, mas aprendi de novo que enquanto estivermos nesta vida não há segurança. Tolo aquele que acha que agora pode dormir tranquilo porque seus celeiros estão cheios. Não sabe que a morte virá buscá-lo ainda esta noite. Nunca entendeu que a riqueza não está no que acumula materialmente.
Não andemos descuidados de tal sorte que não possamos enxergar a beleza e não andemos esquecidos de que os olhos espirituais veem as belezas que ainda estão ocultas. A orquídea me ensinou a esperar, a agradecer e viver bem o momento de agora, ainda que seja difícil.