Como sempre não quis festa; ele é tímido, alguém pode imaginar isto?
Eu, que tenho o privilégio de enxergar, pelas frestas que se abrem às vezes no seu interior, um pedacinho da sua alma, também fico surpresa, mas sei que a timidez é o mais íntimo dos sentimentos dele.
Na verdade, não sei se simplicidade não corresponde melhor à verdade, do que timidez…
A mesma simplicidade que faz com que ele quase peça desculpas, quando depois de uma palestra é aplaudido por muito tempo… Porque ele é o maior “contador de causos” de Cuidados Paliativos que eu conheço, bem ao estilo do mineiro que ele é.
A mesma simplicidade que faz com que genuinamente ele não compreenda porque as pessoas dizem que ele marcou as suas vidas… Aliás, ele sempre faz um ar de surpresa meio incrédula quando eu mesma digo o quanto ele transformou a minha alma e me ajuda a ser diariamente alguém melhor…
Este é o poder do amor: ele multiplica, faz florescer, acrescenta, torna rico quem o experimenta (mesmo que o amor seja impermanente como tudo, aliás).
E amor ele tem na alma prá dar aos montes, com uma generosidade que só se vê naqueles que têm uma Alma Velha…
Quando ele volta das visitas domiciliares eu me enterneço: ele parece uma criança feliz.
Viu dor, viu tristeza, viu medo, mas viu acima de tudo apoio, carinho, solidariedade, dignidade no cuidado do doente. Ele diz sempre que em nenhum outro lugar ele viu uma quantidade tão grande de bons cuidadores, sejam membros da família ou profissionais contratados, quanto aqui em Itajubá.
E isto o deixa feliz: ver sendo feito na prática, com naturalidade, tudo aquilo em que ele tanto acredita.
Para os nossos doentes, que já lutaram o que foi possível lutar na busca da cura, e quando todos se apercebem que não é mais tempo de ficar, o cuidado é tudo!
Re-significar a vida que se viveu, perdoar e ser perdoado pelos erros que se cometeu, dizer o que possa não ter ainda sido dito, ouvir as palavras que precisam ser ouvidas antes de partir, nada disto se faz com técnica ou com remédios…
É claro que remédios que melhoram os sintomas desagradáveis são importantes, e é preciso que se esteja atento ao conforto do corpo; a Dame Cicely Sauders, inglesa a quem se devem os princípios e a prática dos Cuidados Paliativos, sempre disse que não se pode cuidar bem da alma de alguém se o corpo está sofrendo.
E é isto que ele representa, eu acho, para quem o conhece: o amor distribuído com generosidade e compaixão!
É desta forma que se criam os Homens Grandes!
E, por mais que ele tenha se escondido, recebeu tantas, mas tantas mensagens maravilhosas, que está de ressaca de carinho até agora!
Eu amo você, meu marido…