A população brasileira vem passando por uma situação cada vez mais aflitiva devido a uma série de crises associadas, sanitária, ambiental, econômica e agora também energética. Em todos os casos temos um mesmo agravante, o fator político ou, mais especificamente, a inabilidade do presidente da república em dar respostas técnicas e, portanto, consistentes aos desafios que se impõem. De fato, o país é um barco à deriva em um mar de negacionismo e populismo.
Neste artigo vamos tratar especificamente da crise energética atual e do seu impacto na economia nacional. O ano de 2021 já está marcado também pelo fato de ser a pior estiagem em mais de 90 anos e o impacto prático disso é a diminuição dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Alguns reservatórios estão chegando a 1% da capacidade, são exemplos, os reservatórios de Ernestina (bacia Jacuí), Três Irmãos (bacia Tietê), Campos Novos (bacia Uruguai), Três Marias (bacia São Francisco), dentre outros. Na Tabela 1 Abaixo é apresentado um resumo por região.
Tabela 1 – Percentual da Capacidade por Subsistema
Subsistema | Percentual |
Norte | 60,9% |
Nordeste | 40,5% |
Sul | 28,6% |
Sudeste/Centro-Oeste | 16,7% |
Pode-se observar que as regiões de maior consumo de energia são as de menor capacidade e, em associação, o Nordeste (uma das regiões de maior capacidade) também enfrenta problemas com o uso da água, trazendo consequências sociais imediatas com o despacho dos reservatórios para geração de energia nas áreas mais afetadas. Para se ter uma boa noção do que os números acima representam, já estamos vivenciando um cenário similar ao de 2001, com a “crise do apagão” mas, o que mudou de lá para cá, foi a diversificação da matriz energética, antes 90% dependente de exclusivamente de hidrelétricas e hoje alcançando a marca de 60% de dependência.
Em primeiro lugar, é relevante ressaltar que esta estiagem não decorre de uma “ação divina” totalmente imprevisível. É possível discutir o atual cenário no contexto do avanço dos problemas ambientais brasileiros e do correspondente negacionismo que afeta todas as áreas (pode-se citar como exemplo a troca do ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por razões meramente políticas). Não há como prever situações como esta se não há corpo técnico capacitado para tanto, ao mesmo passo, não há como tomar boas decisões sem corpo técnico.
Foi o que ocorreu neste ano com a crise hídrica e, portanto, energética. O Governo Federal poderia ter tomado uma posição já em junho e estabelecido uma estratégia compulsória de redução da demanda (racionamento) oportunizando uma manutenção dos níveis dos reservatórios e do preço da energia. Contudo, o negacionismo, o populismo e uma visão jurássica acerca dos possíveis impactos econômicos inviabilizaram qualquer ação.
Porém, como é sabido, negar o problema não é o caminho para solucioná-lo. O caminho foi se aventurar por um possível equilíbrio entre oferta e demanda de energia trazendo como resultado um racionamento que impôs custos aos consumidores mais pobres (aumento de 300% na tarifa de energia com a finalidade de redução do consumo), redução dos níveis dos reservatórios para manutenção da geração e aumentando o risco de apagão no próximo ano.
Ou seja, todos os possíveis impactos econômicos de uma redução compulsória da demanda permanecem, na direção dos mais pobres, e com uma situação dos reservatórios cada vez mais crítica. Como resultado econômico, estima-se uma redução de um ponto percentual para o PIB projetado para o próximo ano (isto significa que não vamos crescer) e aumento da inflação por conta do aumento do valor da energia.
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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