Como todos já sabemos, o mundo vive uma crise de saúde pública sem precedentes devido à pandemia de COVID-19. Também já foi largamente discutido que a referida crise sanitária tem por consequência um cenário catastrófico de crise econômica. Em números, segundo levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial experimentou uma recessão no PIB de cerca de 4,4% e, por sua vez, segundo o Banco Mundial, mais de 100 milhões de pessoas foram empurradas para a extrema pobreza.
Também já discutimos que o Brasil vem se destacando como um dos países com pior enfrentamento à pandemia. Deve-se destacar que não se trata de opinião, mas de estatística. Essa realidade completamente adversa também se impôs às famílias brasileiras e também já foi exposto uma série de indicadores para demonstrar tal fato. Por exemplo, de um lado, a renda nacional apresentou uma redução de 4,3% no ano de 2020, 2,7 milhões de pessoas foram afastadas do trabalho devido à pandemia, 15,3 milhões de pessoas não estão sequer procurando emprego devido a falta de oferta ou devido à pandemia, 16,3 milhões de pessoas estão recebendo menos que o habitual. De outro lado, houve um aumento do nível de preços dos alimentos na ordem de 21,1%.
Deve-se destacar que, combinado a esse cenário, os auxílios federais foram encerrados ao final de 2020, em especial, o auxílio emergencial (programa de complementação de renda para as pessoas devido à necessidade de isolamento social).
No primeiro semestre de 2020 discutimos que toda essa conjuntura adversa às famílias brasileiras fomentaria, em um primeiro momento, o aumento da quantidade de empréstimos, como recurso para manutenção do orçamento familiar e das empresas e, posteriormente, a um aumento da inadimplência. Na ocasião, tratava-se de uma tragédia anunciada e hoje trataremos do atual cenário de endividamento das famílias.
De acordo com o IBGE (Pnad COVID-19), 9,24% das famílias solicitaram empréstimos em novembro de 2020 (8,08% das famílias efetivamente conseguiram os empréstimos). Mesmo os bancos e financiadoras sendo a fonte predominante dos empréstimos, 20,72% dos empréstimos tomados foram obtidos de outra maneira (parentes, amigos, ambiente de trabalho e/ou agiotas). Contudo, os dados mais alarmantes indicam que 51,89% das pessoas que tomaram recursos emprestados não estava trabalhando e, em associação, 59,69% das pessoas que tomaram empréstimos ganham até 2 salários mínimos.
Para se ilustrar o aumento do endividamento das famílias são apresentadas no Gráfico 1, as concessões de crédito totais realizadas ao longo de 2020 pelas instituições financeiras. Fica evidente a tendência de aumento a partir do segundo semestre.
A conjuntura apresentada evidencia uma tendência de crescimento de atrasos e inadimplência ao longo de 2021. Cumpre ressaltar que esse crescimento dos atrasos e inadimplência não foi verificado ainda devido às flexibilizações de pagamento das dívidas realizadas no ano passado como medidas de contenção da crise.
O grupo Denarius continuará monitorando a situação. De todo modo, as recomendações realizadas nos programas anteriores para planejamento financeiro são mais necessárias ainda. Neste sentido, recomendamos que você relembre esta entrevista:
https://conexaoitajuba.com.br/planejamento-financeiro-na-crise-de-saude-publica/
Autores:
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor Eduardo de Mello Valerio
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
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