Numa aldeia, muitos passavam a vida colecionando objetos descartados por outras pessoas, porque descobriram que a posse de uma grande e variada quantidade de artigos velhos os fazia valiosos novamente.
Um dos colecionadores tinha uma provisão esplêndida de garrafas coloridas de vidro e chamava a atenção pendurando-as em árvores e criando músicas ao tocá-las com varas. Outro, colecionava sapatos de todos os tipos e comentava o quanto variavam os tamanhos e as formas dos pés das pessoas. Havia colecionador de panelas, de livros cômicos, de jornais esportivos; na verdade, era uma verdadeira coleção de colecionadores!
Um dia, um velho homem vagando pela aldeia perguntou onde ficava a praça dos colecionadores. Ele levava um grande pacote, mas não parecia estar carregando muito peso. Assim que encontrou o lugar, muitos perceberam que havia um novo colecionador entre eles e quiseram saber o que o velho trazia no pacote.
– É apenas o meu almoço e uma capa de chuva – respondeu ele.
– Você quer dizer que não tem nenhuma coleção? – perguntaram-lhe.
– Oh, sim. Eu sou um grande colecionador, mas o que coleciono não cabe em nenhuma caixa, pois eu guardo os problemas e as preocupações das pessoas.
Como essa era uma ideia estranha, pediram que ele lhes explicasse.
– Bem, há muito tempo, descobri que todos querem se livrar das preocupações, dos fardos pesados, das tristezas, dos tempos difíceis – essas coisas que jogam as pessoas para baixo e tornam suas vidas mais tristes. Assim, eu me ofereço para colecionar esses problemas e todos se sentem bem! Não é simples?
Alguns pensaram que era uma convicção tola e possivelmente seria perigosa à reputação da profissão, mas logo apareceu um comerciante e novamente perguntou-lhe como colecionava problemas.
– Bem, provavelmente, há algo em sua vida que o aborrece agora mesmo. Fale-me um pouco dessa preocupação e eu a acrescentarei à minha coleção.
– Mas como isso me ajudará? Você pode desaparecer com o problema só porque lhe falo sobre isso?
– Não, mas você se sentirá melhor. Vamos, tente!
Assim, a pessoa falou para o velho sobre algo muito triste. Quando a história terminou, o colecionador de problemas acenou com a cabeça algumas vezes, elevou as mãos como se erguesse algo pesado e fingiu colocar na caixa.
– Pronto! Eu guardei este para você. Como se sente?
– Estranho, me sinto bem! Eu acho que posso controlar o problema muito melhor agora. Realmente funciona!
Aquelas palavras se espalharam ao vento e todos os dias havia uma multidão em volta do velho. Muita gente chegava chorando e saía aliviada, inclusive uma mulher que se aproximou com considerável dificuldade para andar, dizendo:
– Oh, você não sabe quantos pesados fardos há neste mundo. Eu venho de uma cidade onde existem mais problemas do que em qualquer outro lugar. Todos sofrem, ninguém tem qualquer esperança e, o pior, as autoridades prosperam passando por cima dos problemas do povo. É um lugar desesperador! Tive que sair de lá.
O colecionador de problemas ficou sério, levantou-se e ergueu o pacote com um gesto mais lento que o normal. Depois de um longo silêncio, falou calmamente:
– Eu tenho que ir até lá.
Os aldeãos fizeram um grande protesto, pois não queriam perdê-lo. Tinham medo de como ficaria a cidade sem ele e lhe imploraram que ficasse, mas o velho escapuliu no meio da noite.
Muito tempo se passou até que um jovem entrou na aldeia. As pessoas lhe perguntaram se sabia do velho que tinha partido para a cidade dos problemas difíceis.
– Conheci, sim! Graças a ele, as pessoas do lugar começaram a se sentir melhor e a ter um pouco de esperança, mas não levou muito tempo para as autoridades o notarem. Mandaram que partisse e deixasse de se intrometer nas vidas das pessoas.
E com os olhos tristes e um nó na garganta, continuou:
– Como se recusou a ir embora, eles o colocaram na prisão. Lá, ele também colecionou os problemas dos outros prisioneiros! Finalmente, as autoridades decidiram que o bom homem era uma ameaça subversiva ao sistema e o executaram.
Todos começaram a chorar. O jovem, então, concluiu:
– Eu sinto muito por lhes trazer notícias tão tristes. Ele também era meu amigo.
De repente, o rapaz deu um pulo, sorriu e, iluminado por uma grande ideia, começou a gritar:
– Colecionar problemas ainda funciona! Você pode fazer isso para mim e eu posso fazer o mesmo para você! Ele só nos ensinou a ‘pescar’! O que temos a praticar é simples: basta ouvirmos as pessoas, pedirmos que desabafem e, assim, reflitam melhor nas coisas boas da vida! Serei um colecionador de problemas e hei de espalhar o que aprendi.
A partir dali, aquele jovem passou a ajudar muita gente e descobriu outros colecionadores de problemas. A cidade onde o mestre deles todos foi executado, tornou-se o lugar mais feliz da região…
Ei, você! Sim, você que está lendo este texto, quer se tornar um ‘colecionador de problemas’? Então, siga os ensinamentos do nosso Mestre que morreu na Cruz!
Por Ø Paulo R. Labegalini. Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).
Livros do autor:
1. Gotas de Espiritualidade – Editora Bookba (à venda na Amazon, Americanas, Shoptime, Magalu…) – mensagens diárias de fé e esperança, com os santos de cada dia.
2. Pegadas na Areia – Editora Prismas / Editora Appris
3. Histórias Infantis Educativas – Editora Cléofas
4. Histórias Cristãs – Editora Raboni
5. O Mendigo e o Padeiro – Editora Paco
6. A Arte de Aprender Bem – Editora Paco
7. Minha Vida de Milagres – Editora Santuário
8. Administração do Tempo – Editora Ideias e Letras
9. Mensagens que Agradam o Coração – Editora Vozes
10. Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão (coautor) – Editora Edgard Blücher
11. Mecânica Geral – Estática (coautor) – Editora Interciência