À beira de um riacho, algumas mocinhas conversavam, contando vantagens de suas lindas mãos. Uma delas mergulhou as mãos na água e as gotas que caíam das suas palmas pareciam diamantes.
– Olhem como minhas mãos são lindas! A água corre nelas como jóias preciosas – disse ela, levantando as mãos para as outras admirarem.
Realmente eram muito macias e brancas, pois a única coisa que fazia com elas era lavá-las em água fria e limpa.
Outra mocinha correu para colher morangos e esmagou-os nas palmas das mãos. O líquido escorreu pelos dedos até ficarem rosados como o céu ao sol nascente.
– Vejam que lindas mãos as minhas! O suco de morango escorre por elas como vinho!
Eram muito rosadas e macias, pois as lavava com suco de morangos todas as manhãs.
Outra mocinha colheu violetas e esmagou-as nas mãos até ficarem muito perfumadas.
– Olhem que lindas mãos eu tenho! São perfumadas como as flores dos bosques da primavera!
Eram delicadas e claras, pois uma das únicas coisas que fazia com elas era lavá-las com violetas todos os dias.
A quarta mocinha não mostrou as mãos, deixando-as no colo. Então, uma velha veio andando pela estrada, parou perto delas, e lhe mostraram as mãos, perguntando quais eram as mais belas. Para as três primeiras, ela balançou a cabeça; depois, pediu para ver as mãos da última mocinha. E a jovem levantou as mãos timidamente.
– Hum, estas mãos estão bem limpinhas – disse a mulher –, mas estão endurecidas pelo trabalho. Percebo que ajudam os pais: lavando as louças, varrendo o chão, limpando as janelas e semeando a horta. Estas mãos tomam conta do bebê, levam chá quente para a vovó e ensinam o irmãozinho menor como empilhar os toquinhos e empinar a pipa. Sim, estas mãos andam muito ocupadas fazendo da casa um lar feliz, cheio de amor e de carinho.
Então, a senhora idosa remexeu o bolso e retirou um anel de diamantes – com rubis mais vermelhos que morangos e turquesas mais azuis que violetas.
– Tome, use este anel, querida. Você merece o prêmio pelas belas mãos, pois são as mais úteis de todas.
Que linda história! Se você olhasse agora para as próprias mãos, sentiria orgulho das suas realizações? E se tivesse que contar tudo o que já fizeram, omitiria muitas coisas? Dá para prometer a Deus que atos ruins e omissões à caridade não voltarão a acontecer?
Eis outra história para reflexão:
Há muito tempo, havia um mestre que vivia com um grande número de discípulos num templo arruinado. Eles sobreviviam através de esmolas e doações conseguidas numa cidade próxima. Logo, muitos jovens começaram a reclamar das péssimas condições em que viviam. Em resposta, o velho mestre disse:
– Realmente, nós devemos reformar as paredes do templo. Como ocupamos o nosso tempo estudando e meditando, não há como trabalhar e arrecadar o dinheiro que precisamos, mas eu pensei numa solução simples. Cada um de vocês deverá ir para a cidade e roubar alguns bens, que poderão ser vendidos para arrecadar dinheiro. Dessa forma, nós seremos capazes de fazer uma boa reforma em nosso templo.
Os estudantes ficaram espantados por esse tipo de sugestão vir do sábio mestre, mas, como tinham o maior respeito por ele, não fizeram nenhum protesto. De modo bastante severo, o mestre ainda falou:
– Para não manchar nossa excelente reputação, já que estamos cometendo atos ilegais, solicito que roubem somente quando ninguém estiver olhando. Eu não quero que algum de vocês seja pego.
E partiram, prometendo coletivamente que não seriam flagrados para não causarem a desgraça do templo; porém, um discípulo não foi à cidade. O sábio mestre estranhou, se aproximou dele e perguntou:
– Por que você ficou para trás?
– Eu não posso seguir as suas instruções para roubar onde ninguém esteja vendo. Não importa aonde eu vá, sempre estarei olhando para mim mesmo. Meus olhos irão ver minhas mãos roubando!
O mestre abraçou o jovem com um sorriso de alegria e disse:
– Eu somente estava testando a integridade dos meus estudantes e você é o único que passou no teste!
Após muitos anos, o discípulo se tornou um grande mestre, provando que nossas mãos podem nos conduzir a lugares maravilhosos ou nos colocarem em situações pecaminosas. Enquanto algumas mãos batem e atiram, outras abençoam e repartem o pão. Enquanto algumas acusam, outras oferecem ajuda. E o pior: enquanto algumas são perfumadas para só receberem jóias preciosas, outras mendigam trabalho e um prato de comida.
Pois é, trabalhando ou praticando a caridade, uns usam as mãos devidamente, enquanto outros, esbanjando riquezas, as usam para cavar a própria sepultura.
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).