Para os mais novos não existe dilema, uma vez que já nasceram na era da internet e convivem nas redes sociais com uma naturalidade surpreendente como vão às baladas. Meu receio é que chegue o dia em que as baladas deixem de ser reais para se tornarem apenas virtuais. Os jovens não conseguem compreender como era a vida das pessoas sem o mundo virtual, pura ficção para eles, e para dizer a verdade até para nós, mais velhos, que já nos esquecemos um pouco como era viver sem a net. Entretanto, nem todos, é claro, vivenciamos certo conflito com a exposição nessas ditas redes. O problema é o exagero e isso vale para qualquer coisa, o exagero de comer, o exagero de comprar e outros exageros. Quase todas as pessoas, logo que acordam, já se conectam na internet. Evidente que todo mundo trabalha com o computador hoje em dia, mas se o chefe não está olhando, vale uma entradinha no Face para postar aquela foto legal de ontem e também para ver o que os outros estão postando. Ah! os outros, o dilema não deve ser nem a internet, são os outros. Nunca foi inventado algo tão eficiente para ver o que passa pela vida dos outros.
As pessoas compartilham máximas de filósofos, vídeos, fotos, muitas fotos, principalmente de viagens. Como estamos na era do ter e mais do que isso, de mostrar que se tem, os amigos curtem e comentam, sempre que possível dando um jeito de mostrar que também já fizeram tal coisa ou que também já estiveram em tal lugar: “Ah Veneza! Que bela! Que saudade de quando estive pela última vez na Itália” (querendo dizer, óbvio, que já estiveram mais de uma vez). Quem foi comentado acha por bem também corresponder, comentando quando um amigo posta suas fotos do estrangeiro: “Cara, este ângulo que você pegou da pirâmide foi genial”. E os exageros vão crescendo cada vez mais, já é vício. Espanta a necessidade que as pessoas têm de informar o que estão fazendo ou o que vão fazer, tem até gente que diz que está indo tomar banho, que está cansado, triste ou alegre. Tem uns que já resumem: “… saindo… ou … entrando”.
Mas como nem tudo está perdido, as redes sociais também têm suas coisas úteis e interessantes como achar algum parente que não se vê há trinta anos, como conseguir um bom emprego e mesmo para vender coisas, fazer propaganda de sua loja, serviços e produtos. O mais curioso e terno episódio que já vi por esses dias foi o da veterinária que pediu socorro pela sua página do Face. Estava cuidando de um gavião ferido que precisou ser submetido a um exame de ultrassonografia em outra cidade. O gavião, já prontamente examinado, precisava retornar à cidade de origem, onde ainda ficaria em repouso por alguns dias antes de alçar vôo. A boa veterinária postou em sua página do Facebook: “Alguém sabe de alguém que vem para cá ainda hoje? É que o Fiel (nessas alturas o gavião havia sido batizado) já está pronto para voltar”. Não deu quinze minutos, a avó de uma amiga já pegava o pássaro engaiolado e um tanto assustado. Deu tudo certo e foi através da bendita rede social. Nem tudo é tão mau, nem tudo é tão bom. Como sempre, as coisas não são más em si, depende do uso que fazemos delas.
Não adianta resistir, o mundo virtual chegou para ficar, impossível não sucumbir. Quanto ao gavião, este já ganhou os céus, restabelecido e agradecido a todos. No dia seguinte, alguém postava: “Alguém tem notícias do Fiel?” E outro alguém respondia: “Já bateu asas e voou”.