Todos devem ter assistido a reportagens, lido mensagens na internet sobre profecias incas, pronunciamentos de videntes das mais variadas religiões, pessimistas probabilidades científicas asseveradas pela Nasa e boatos em geral. Nos últimos anos proliferaram notícias sobre explosões e tempestades solares com prováveis blecautes, deslocamentos magnéticos e outras tantas coisas catastróficas. O anúncio do fim dos tempos não é novo. Desde menina ouço falar que o mundo vai se acabar, e estava justamente ouvindo uma música de Assis Valente, de 1938, interpretada por Carmem Miranda chamada “E o mundo não se acabou”. Mas parece que a coisa agora é séria porque do jeito que estão abusando do mundo, ele tem mais é que se acabar. Aquele negócio de começar tudo do zero, compreende? Zera tudo e começa de novo. Se é que começa.
Bom, a música de Assis Valente é alegre e brinca com a questão do fim do mundo de forma divertida. Carmem Miranda canta: “acreditei nessa conversa mole … e fui tratando de me despedir … e sem demora fui tratando de aproveitar … beijei na boca de quem não devia … peguei na mão de quem não conhecia , dancei um samba em traje de maiô …” Que inocência dos tempos antigos! Se assistissem hoje as proezas debaixo das cobertas do BBB! Aquilo sim que é literalmente o fim do mundo ou o fim da picada. E olhe que o pessoal lá nem tá sabendo que o mundo pode se acabar, eles sim, estão se acabando de tanto beber e ficar debaixo das cobertas. Melhor, estão acabando com o mundo. Aliás, a única coisa boa de um grande blecaute seria o fim da transmissão da praga dos BBBs.
Enfim, assim como na música, o pessoal está tratando de aproveitar. Meu irmão está repensando a questão de parar de fumar, uma vez que o mundo se acaba este ano. Um amigo desistiu de economizar dinheiro, na dúvida é melhor gastar em qualquer coisa. Uma amiga também desistiu, mas de frequentar a academia de ginástica e passou a consumir seus chocolates, gulosamente e totalmente sem culpa. Outra amiga resolveu se declarar a um provável pretendente, perdido por um, perdido por mil. Alguns ateus convictos estão desconfortavelmente titubeantes em sua descrença, com um pé lá e outro cá, afinal por via das dúvidas não custa nada se garantir.
A música bem humorada de Assis Valente continua com Carmem Miranda cantando o que mais havia feito já que o mundo ia se acabar: “… chamei um gajo com quem não me dava e perdoei sua ingratidão … e festejando o acontecimento gastei com ele mais de quinhentão … ” Pois é, o pessoal brinca, mas a coisa é séria, gente.
Brincadeira à parte, a gente vai rindo para não chorar, não sabemos como será o fim do mundo, mas tenho certeza de que divertido é que não. Enfim, não saberemos até que aconteça. Mas, pensando bem, como diria Oscar Wilde, “a certeza seria fatal, é a incerteza que dá encanto aos fatos”, até mesmo a um fato aterrorizante como este. Enquanto o mundo não se acaba, vamos tratar de viver bem cada dia como se o último fosse. Vamos perdoar as ingratidões, fazer as pazes com os outros e com a vida porque o mundo pode não se acabar, mas nós, ah, nós certamente acabaremos … bem ou mal …. mas acabaremos.