A guerra entre a Microsoft e o Google era, até agora, travada em pequenas trincheiras estratégicas e pontuais. O Google criava alternativas on-line para programas como o Word ou o PowerPoint. A Microsoft respondia à inovação, ao inventar o Live, ferramenta de buscas competente, mas sem chance ante o líder. Uma empresa tentava estocar a outra em áreas sensíveis, mas não era uma competição direta por um mesmo mercado, com produtos semelhantes.
O Google Chrome (http:// www.google.com/chrome) muda completamente esse panorama. Ele é um navegador e bate de frente com o Internet Explorer, da Microsoft. Ou seja, o Google quer uma fatia do mercado conquistado pela Microsoft ao longo dos anos, em que três quartos de todos os usuários utilizam o Explorer para navegar pela internet.
A idéia de um navegador criado pelo Google era fonte de boatos desde 2004, mas o lançamento parece ter sido acelerado pelas inovações que a Microsoft pretende colocar na versão 8 do Explorer. Grande parte do sucesso do Google está em coletar informações sobre as propagandas que vendem pela internet: se são efetivas, como e onde o usuário clica os banners que as contêm. O novo Explorer inclui mudanças que bloqueiam essa coleta de informações e cria uma nova experiência voltada para uma gama de serviços Microsoft. Isso significaria uma perda de receita enorme se os usuários de internet de repente usassem os produtos Google.
Aí entra o Chrome, com inovações interessantes. As abas que separam páginas ficam acima da barra de endereços e a página principal mostra miniaturas dos seis sites mais usados pelo usuário, com conteúdo atualizado. Algo como uma lista dos mais discados, que foi sacada pelo navegador Opera há tempos. O mais importante é o modo como o navegador trata cada página. Normalmente, um navegador abre páginas, faz cálculos e desenha tudo de forma linear, como se estivesse numa fila. Se uma das páginas tiver um problema, ela ficará travada, e o navegador terá de ser fechado. O Chrome individualiza cada página dentro do que os engenheiros do Google chamam de “caixa de areia”. Assim, se uma travar, as demais continuam perfeitamente em ordem e o usuário não perde nada do que fazia.
Essa é a outra aposta do Google com o navegador. Cada vez mais os usuários utilizam navegadores como sistemas operacionais. Escrevem textos, checam e-mails, ouvem música, usam programas de mensagens instantâneas, tudo hospedado na internet, não no computador.
Com isso, o Google espera que os usuários finalmente tenham um estalo e digam: “Puxa, eu não preciso mais do Windows, do Word, do PowerPoint, do Messenger, do Media Player, está tudo aqui nos serviços do Google, dentro do Chrome”. Esse insight talvez seja demorado, mas acaba de se tornar um dos piores pesadelos da Microsoft.
Mesmo que o Chrome seja mais um entre os navegadores que competem pela atenção de usuários, digladiando-se com o Explorer, o Firefox e o Safari, da Apple, as inovações que trouxe são benéficas para todos, porque estimulam os competidores a melhorar seus produtos. Só mesmo a tecnologia para gerar um embate com bons propósitos.
Fonte: Carta Capital