Sabendo que seria mais atraente para as crianças se elas tivessem um “mundo especial” do qual poderiam entrar e sair, pesquisou e encontrou uma excelente ferramenta na obraO livro da Jângal, de Rudyard Kipling. Consultou o autor, que deu sua aprovação, e esquematizou o fundo de cena para o novo Ramo.
Como a maioria das histórias doLivro da Jângalse refere a Mowgli, o Menino-lobo, foi esse o grande referencial. Os jovens seriam Lobinhos, operando numa Alcatéia e recebendo a orientação dos outros seres da Jângal.
Os valores da Lei da Jângal, conforme a obra de Kipling, eram fáceis de serem traduzidos para as regras de conduta social; a partir dela, foi elaborada a Lei do Lobinho, um código de conduta semelhante no espírito à Lei Escoteira, mas adaptado ao estágio de desenvolvimento dos Lobinhos.
Cada adulto que atua junto aos Lobinhos como educador é associado, pelos seus atributos de personalidade e encargos na Alcatéia, a algum personagem da Jângal: Baloo, o urso que ensina a Lei; Kaa, a serpente que muito conhece; Hathi, o elefante sábio nos julgamentos; Chil, o abutre que vê tudo do alto; Bagheera, a pantera ágil e forte; Kotick, a foca branca que se empenha pelo bem da coletividade; Rikki-tikki-tavi, a mangusta dedicada aos seres que ama.
Num mundo “realista” como o moderno, pode parecer anacrônico ou “infantil” que os Lobinhos “vivam num mundo de fantasia”. Primeira coisa a lembrar: são crianças e devem ter as brincadeiras e fantasias de criança, sob pena de comprometer seu desenvolvimento psicossocial rumo à idade adulta. Em segundo lugar, as crianças sabem entrar e sair do “mundo da fantasia”. E se essa “fantasia” ajuda a tomar como diretriz de vida valores morais sólidos, que resultam em comportamentos socialmente sadios, é bem melhor que certas “realidades” baseadas puramente no egoísmo e na vantagem pessoal à custa de outros.
Essa é a metáfora do aprendizado de vida dos Lobinhos. Como Mowgli na Jângal, eles aprendem a viver segundo a Lei, a cuidar de si mesmos e conviver bem no grupo – verdadeiros requisitos para a sobrevivência na selva, seja dos animais, seja dos humanos.