Seus olhos negros contemplavam a parede com curiosidade. Aquela era a maior janela que lhe mostrava o mundo lá fora. Mas esta era especial e ele tinha a maior consideração por isso, ninguém podia olhar para ela, pois o mundo ali desenhado era só seu e de mais ninguém. Abaixo um pouco próximo do chão uma mancha ondulante e negra na pintura lhe lembrava o mar e as ondas espumantes se jogando dramáticas por sobre a areia morna como que se jogando aos pés de uma grandiosa montanha que, acima daquele mar se elevava até quase o teto da sala fechada. “Queria poder subir no seu cume e me jogar nos braços do mar”assim o louco diz como quem fala ao sopro do vento. A montanha com seus braços brancos abraçava a figura acima, até suas extremidades se esbranquiçarem ainda mais e sumir em meio ao nada. Caindo por sobre o cume da montanha uma grande mancha turbulenta era para o louco uma nuvem que dançava sobre a paisagem. Sua tristeza era o espelho daquele mundo, não só daquele mundo, mas também do seu único observador que ali sentado deixou uma lágrima cair no branco. Ele só não podia ouvir o som das ondas quebradas, o cantarolar do vento ultrapassando o pico da montanha e o tilintar das primeiras gotas de água descendo das nuvens negras. Seu mundo era mudo e preso na eternidade do vazio.