Às vezes me descubro com medo!
E por mais que eu me envergonhe disso, o meu medo parece aquele mesmo que eu tinha quando criança e o mundo me parecia grande demais, incompreensível e assustador (e pouco importa que eu tenha 63 anos, tenha criado três filhos, seja terapeuta há tanto tempo que já nem me lembre mais de quando ainda não era, trabalhe com pessoas que estão morrendo, seja professora de futuros médicos…).
Mas, afinal, quando é que eu tenho medo?
Percebo que a reação de alarme aparece sempre que alguma coisa nova me acontece; e, incrível: muitas vezes esse novo é algo que me agrada, que me excita, que me fascina! Então, parece que o que me assusta, na verdade, é o desconhecido.
Mas também consigo entender que o medo não é apenas aquele sentimento que me paralisa; ele me faz cautelosa, me obriga a andar devagar, a prestar atenção ao meu redor, a me proteger, bastando apenas que eu não permita que ele me domine!
Aliás, quantas tragédias teriam sido evitadas se a arrogância de alguém que se julgou em algum momento indestrutível, não tivessem falado mais alto do que o pedido de cautela que o friozinho na barriga encerra! Os nossos adolescentes que o digam.
E a mudança (graças a Deus) é inevitável e inexorável, ou nenhum crescimento é possível. Não queremos ser um triste bando de Peter Pans ou Wendys, perdidos pela Terra do Nunca, não é?…
Mas como lidar com o medo de mudar? Como não ceder a ele, sem desconhecê-lo?
Antes de mais nada, cumpre respeitá-lo e compreender a sua mensagem de cautela, perguntar a ele como eu posso me proteger dos riscos e dos erros, ouvir as minhas próprias respostas e adequá-las à realidade objetiva do mundo que me cerca.
Amigos íntimos, aqueles de quem a gente não tem medo, são os melhores conselheiros nos momentos em que é difícil decidir que rumo tomar. Às vezes, são os melhores ombros onde encostar a cabeça e chorar! E depois partir, com o coração cheio de coragem!
Meditar bem no olho do furacão pode parecer loucura e uma impossibilidade, mas a gente se surpreende com os resultados, quando se lembra de tentar!
Criar um quadro mental vivo e detalhado do projeto que a gente anda secretamente acariciando mas não se atreveu ainda a desenvolver, e projetá-lo mais e mais, e com força e fé no resultado favorável, faz milagres!
Rememorar todos os outros momentos em que o velho companheiro medo se insinuou no escuro da alma, sussurrando mensagens de recuo, e antepor a esta imagem, o sucesso que a gente experimentou quando não se deixou intimidar. E o orgulho gostoso e o calorzinho aconchegante da vitória?!…
Nunca é demais repetir: o que já vivi eu conheço, é passado, é experiência para o próximo passo; o que está por vir é a minha salvação, porque é o meu crescimento e a minha sabedoria!