Logo que dezembro despontava, já esperávamos, ansiosos, a cesta que meu pai encomendava. E quando chegava era o início da festa. Olhávamos para ela, ainda fechada aos nossos olhos ávidos pelos tesouros que continha. A cesta de vime, à semelhança de uma arca de joias raras tinha em seu interior celofane colorido e numerosas tiras de palhinhas enrodilhadas que guardavam guloseimas. Não me lembro agora da marca da cesta, talvez “Amaral” ou “Columbus”. O que mais me aguça a memória são as palhinhas que escondiam os tesouros contidos. E a cesta ficava lá na sala de nossa casa da infância, encostada em um canto da parede esperando ser aberta na véspera do Natal. A espera do Natal era dolorosa, porém deliciosa, pois de fato o melhor da festa é esperar por ela. Em vão grudávamos os olhos pelas frestas da cesta, tentando vislumbrar o que havia dentro.
Enfim chegava a noite do dia 24. Após angustiante espera meu pai abria solenemente a cesta e nós arregalávamos os olhos diante do tesouro finalmente exposto: nozes, chocolates, patês, doces, compotas, caixas de bolachas recheadas, latas de doces, vinhos. O mais empolgante era descobrir uma noz retardatária e escondida ou mais uma latinha esquecida pelo entrelaçado da palhinha. Cada um de nós se apressava a encaixar uma noz no vão da porta para que fosse quebrada. Logo surgia o “croque” de várias nozes sendo esmagadas. O gosto nem era assim tão espetacular, mas o ruído e o ritual de quebrar a noz com aquele som característico ficou indelevelmente gravado em nossa memória. Como abelhas zumbindo em volta da colmeia disputávamos um lugar para ver meu pai e minha mãe retirando as guloseimas da cesta.
Aprendemos desde sempre que o Natal não é ou não deveria ser nada material. Mas éramos crianças sequiosas por novidades, já seduzidas pela cobiça dos olhos, inclinadas a ter mais do que ser. Assim, por mais que o menino Jesus dormisse todo arrumadinho lá no bercinho do presépio, nos fazendo lembrar de seu nascimento, nossos olhos encantados voltavam-se para a bendita cesta agora escancarada, com palhinhas espalhadas por toda a sala. Os presentes seriam abertos no dia seguinte, mas não tinham tanto encanto porque já havíamos feito nossos modestos pedidos (minha mãe nunca deixou que pedíssemos nada que não pudessem comprar) e, portanto, já sabíamos o que estava por dentro dos embrulhos.
Mas a cesta com seus celofanes coloridos e palhinhas mágicas, ah, ela nos fascinava e nos desafiava com seus mistérios a serem descobertos. E como diria Mia Couto: “mas não é assim mesmo a festa: feita de ilusão e brilhos maiores que as substâncias?” Se os produtos da cesta viessem numa mera caixa de papelão, eu não me lembraria de nenhum detalhe daquelas animadas noites natalinas. A cesta de vime e as palhinhas eram as estrelas mágicas da festa, afinal eram elas que mexiam com nosso imaginário, escondendo as nozes e doces e nos fazendo esperar por eles.
E quem sabe esperar conhece o segredo da felicidade!