Ziraldo Alves Pinto foi um cartunista, chargista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, poeta, caricaturista, cronista, desenhista, apresentador, humorista, jornalista… E quem sabe quantas mais coisas ele fez, desde a infância até os 91 anos.
Nasceu em Caratinga (sudeste do estado de Minas Gerais) como o mais velho de sete irmãos. Seu nome é a composição do nome da mãe (Zizinha) com o do pai (Geraldo), como ainda é comum no estado.
Quando tinha apenas 6 anos, teve um desenho publicado no jornal Folha de Minas.
Andou pela vida, desde muito cedo, a brincar de encantar as crianças e os adultos. São inúmeras as suas criações: Flicts, O Joelho Juvenal, A Turma do Perequê, e mais tantos.
Mas ele se tornou eterno com O Menino Maluquinho, um moleque travesso que anda com uma caçarola na cabeça, à guiza de chapéu. Ele é um menino como todas as crianças deveriam ser, sapeca, brincalhão, agitado, criativo, carinhoso, um tanto irresponsável.
Há quem diga que Ziraldo se inspirou nele mesmo para inventar o Maluquinho.
Um dia ele disse a amigos que conheceu, na infância, muitas crianças tristes, e que isso o deixava revoltado.
“Criança tem que ser feliz, pra que o adulto que ela vai ser não se torne amarga nem ranzinza”, dizia ele.
E Ziraldo foi um eterno menino feliz, mesmo quando adulto. Quem tiver dúvida que leia os seus quadrinhos, recheados de humor e de ironia.
Foi um militante de esquerda durante a ditadura militar, e pagou o alto preço que outros intelectuais e artistas brasileiros pagaram na época (alguns ainda pagam, sob forma de luto da família). O célebre Pasquim, odiado pelo governo militar, foi fundado por ele, pelo Henfil e outros gênios.
Ziraldo nunca envelheceu, daquela velhice sectária e ranzinza que vemos às vezes por aí, mortos-vivos à espera de sepultamento.
Em um dos seus mais recentes vídeos, gravado em 2019 para divulgação de uma exposição dedicada a ele, Ziraldo comentou que não estava triste, ao se desculpar pela voz um tanto abatida. Era a idade que havia chegado.
“Vocês podem achar que eu estou um pouco triste, falando devagar, porque não é meu estilo. Acontece que eu de repente fiquei velho. Foi outro dia. Eu acordei de manhã e estava velho”, disse ele, vestindo um de seus indefectíveis coletes. “Mas eu estou alegre, estou feliz da vida.”
Ziraldo foi virando aos poucos um Velhinho Maluquinho, com a caçarola vermelha enterrada na cabeça.
Morreu dormindo, e tinha um sorriso nos lábios quando foi encontrado à tarde, durante a soneca que tirava todos os dias em casa.
Graça Mota Figueiredo
Professora Adjunta de Tanatologia e Cuidados Paliativos
Faculdade de Medicina de Itajubá – MG