O grande linguista Benveniste já se pronunciava sobre essa questão, afirmando que para cada falante o falar emana dele e retorna para ele, e que, portanto, cada um se determina como sujeito com respeito ao outro ou a outros. Resumindo, para Benveniste, ao falar, o homem emerge como sujeito, ou ainda, o homem só se torna sujeito na medida em que fala. Forte, não? Assim, percebemos a indiscutível importância do oral que remete à fala, pois podemos inferir que oralmente é que emergimos como sujeitos e atingimos o outro. Acaso poderia existir algo mais imperioso para o homem do que se manifestar oralmente e assim poder se comunicar com eficácia? Não resta dúvida de que somos seres eminentemente orais, que o homem é o que fala e sua fala mostra o que ele é.
Sabendo já da capital importância do oral, é possível falar em primazia cronológica da oralidade, se considerarmos que provavelmente esta tenha precedido à escrita. Ainda que, no princípio, o homem se comunicasse através de sons grotescos ou grunhidos, o oral possivelmente surgiu primeiro. Mas, por outro lado, a escrita impõe-se sempre com um valor muito grande sobre a oralidade pelo seu potencial cognitivo, pelo avanço na capacidade de conhecimento dos indivíduos, pelo registro de fatos e acontecimentos. Basta dizer que a História é assim considerada a partir da escrita.
Desenhar em suas grutas e cavernas já representava anseios do homem lá no Período Paleolítico Superior (40.000) a.C.) mostrando que ele talvez pretendesse, na forma escrita, testemunhar sua vida para seus semelhantes da época ou ainda do futuro, quem sabe. Na década de oitenta, discutia-se sobre a supremacia da escrita, resultando daí uma relação dicotômica entre oralidade e letramento. Na sociedade atual, essa relação é questionável, pois tanto a oralidade quanto a escrita são atividades imprescindíveis, interativas e complementares. Se, por um lado, a fala nos torna humanos, por outro, a escrita nos torna civilizados.
Assim, mais urgente do que identificar primazias ou supremacias entre oralidade e escrita é a tarefa de esclarecer a natureza das práticas sociais que envolvem o uso da língua falada e escrita. Resta concluir que a oralidade não é superior à escrita, nem a escrita é superior à oralidade. Uma e outra têm características e elementos significativos próprios, que ao longo dos tempos têm se complementado em perfeita harmonia, pois, afinal, pela escrita conhecemos que “no princípio era o verbo”.