A cada manhã quando acordássemos nós perguntaríamos a ele:
– “Gentil e belo pássaro, eu morrerei hoje?”
Ao que o pássaro responderia, manhã após manhã:
– “Sim!”
Só depois deste diálogo é que começaríamos o dia.
O simbolismo é transparente: quem de nós gastaria o dia com futilidades se soubesse de antemão que morreria antes do entardecer?
O que seria mais importante no último dia de nossas vidas: um carro novo ou o amor?
Um abraço apertado ou a briga com o vizinho porque o cachorro late às vezes à noite?
A família ou a reunião de negócios que vai “acabar” com o concorrente?
Brigar no trânsito com quem nos fechou na esquina ou buscar o filho na escola?
Se nenhum de nós seria insano de gastar um tempo assim precioso com ódios e mesquinharias se a vida não fosse durar prá sempre, por que agimos como se ela fosse eterna?
Por que não aceitamos a possibilidade de que hoje pode, sim, ser o último dia das nossas vidas?
Por que não vivemos cada minuto das nossas vidas fazendo com que ela valha a pena? Afinal, como sabemos o momento em que seremos chamados prá viagem na qual só se leva a alma?
Quem não se lembra de Santo Agostinho?
“A morte não é nada.
Eu somente passei para
o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
Eu continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês sempre me deram,
Falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
Eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste,
Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
Sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
O fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos,
Agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe,
Apenas estou do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga em frente,
A vida continua, linda e bela como sempre foi.”