A infância é o momento em que os mantras são absorvidos com profundidade. Estes primeiros decretos se originam dos pais ou quem os substitua, os formadores da autoestima, do desenvolvimento cognitivo e da personalidade. São eles os transmissores dos valores a nortear a essência amorosa da vida em manifestação na terra.
Conectadas à essência, as crianças também aprendem por imitação e espelham inconscientemente os pais e pessoas próximas. As impressões da primeira infância têm consequências como em nenhuma outra fase da vida.A criança vai ao mundo aberta e desprotegida absorvendo tudo tão profundamente que seus próprios órgãos são moldados pelas impressões assimiladas. Ambientes perturbados estimulam órgãos adoecidos e ambientesequilibradosórgãos sadios.
Frequentemente, os pais reproduzem padrões familiares e culturais de forma inconsciente, sem questionar se os conteúdos se adaptam à realidade presente e se ajudam a construir um ser humano e sociedade pacíficos e saudáveis.
A inflação do ego que os pais sofrem frente àcriança, bancando professores o tempo todo, à inunda com toda sorte de tolices como se fossem verdades sagradas, conselhos contraditórios, falas incoerentes, descrições ignorantes e inconsequentes de mundo contrárias à experiência imediata do neófito.
As falas dos pais, carregadas de emoção e autoridade, eventualmente desmerecem características da criança ou definem modelos rígidos, podando dons, espontaneidade e criatividade. Em algumas famílias são recorrentes frases como: “Você é muito desajeitado”, “Menino não chora”, “Bateu, levou”, etc.
A criança interioriza os “mantras” dos pais, que se convertem em diálogo interno incoerente e dissociativo.As origens do sofrimento ocorrem, com frequência, por choque de valores e se referem a momentos de humilhação, exclusão, abandono, rejeição, que geram mecanismos de defesa a inviabilizar a construção de uma vida plena de sentido.
A estabilidade emocional e a confiança em qualquer adulto dependem da saúde da relação afetiva com seus pais, e se as necessidades de proximidade física, amor e respeito foram atendidas. Com frequência, as privações na infância se convertem em “mantras” de vitimização e no adulto e podem criar traumas associados à memória de abandono.
Quando a criança se sente rejeitada ou abandonada, cria decretos como: “Não mereço receber amor” ou “O amor não é duradouro”, “Minha presença cria separação” etc. As memórias de abandono são geradas em circunstâncias de ausência física como emocional dos pais ou das pessoas que os substituem. Afirmações repetidas sobre desamor e vitimização também são geradas a partir de manifestações de raiva dos pais.
Estes “decretos” são acionados em circunstâncias que a pessoa interpreta como similares à experiência vivida na infância e vêm acompanhados do medo da repetição da experiência original. Neste contexto, qualquer mudança passa a ser encarada como ameaça à identidade.
Há ainda a perpetuação de modelos de conduta questionáveis. Ensina-se às meninas serem submissas e aos meninos, agressivos. Passam a ser normais e desejáveis relações onde um assume o papel de salvador e outro de resgatado. Brinquedos, filmes e contos reforçam estes estereótipos. Assim, a princesa nos contos de fadas é jovem, bonita e está à espera do príncipe, heroico e rico. Casar é o único caminho!
A identidade de gênero é um desafio a ser enfrentado. A discriminação do feminino, incutida na criança desde a infância pode ser encontrada na gramática e nas expressões de diferentes línguas. Escolas ensinam que o masculino deve ser usado genericamente para ambos os sexos e que a concordância é sempre com o masculino, mesmo que minoritário ou implícito.
Também não há princesas gordas, exceto a do desenho Shrek, que decide ser uma ogra para se adaptar ao marido. Novamente, submissão ao modelo masculino. Ao reforçar modelos onde as relações são de dominação-submissão, se reduzem as possibilidades de cooperação e de relações equilibradas.
O impacto das afirmações e decretos dos pais sobre a personalidade dos filhos é descrito no livro “A profecia Celestina”, onde as atitudes dos pais geram “dramas de controle” nos filhos, mecanismos para chamar a atenção dos outros e, assim, obter maior domínio e “energia”.
Há de se levar em contaa dificuldade dos pais em serem bons exemplos tempo integral, a despeito dos desafios emocionais e materiais. Fundamental então que se explorem recursosculturais que atualizem a vida anímica-espiritual para que ela se afirme anteadversidades, minimizando-as.