Enquanto escrevo, vejo na tv a chegada do homem à Lua.
Eu me lembro perfeitamente desse dia.
Em 20 de julho de 1969 o mundo todo tinha os olhos e os ouvidos voltados para as televisões que transmitiam a viagem e o pouso na lua de Armstrong e Aldrin, no Eagle.
A façanha servia para fins políticos entre União Soviética e Estados Unidos da América, mas não é isso o que mais me interessa enquanto vejo as filmagens se sucedendo.
Minhas reflexões me levam para muito longe da Terra, por sinal.
Que incrível a capacidade humana de transcender obstáculos e de se aventurar pelo novo, sem medo. Admirável o impulso do homem pelo conhecimento, pela superação das dificuldades e das limitações.
Mas atingir o espaço ao redor da Terra talvez tenha sido o mais intenso dos desafios, porque excede de longe as descobertas até esse momento, sempre nos limites do nosso quintal. Ir ao espaço externo alimenta os nossos maiores sonhos de desvendar os mistérios do Universo, talvez nos aproximando mais de Deus.
Ver a Terra e suas cores e o desenho dos seus mares do negror do cosmos pode nos permitir perceber a fragilidade da vida, a relatividade das emoções humanas, dos desejos e das necessidades que nos movem.
Ao mesmo tempo nos consagra como parte da majestade do Todo, do infinito que nos cerca, dos mistérios maiores da vida que nos alimentam.
E é nesse espaço intermediário em que nos movemos, ao mesmo tempo ínfimos perante o Universo, ao mesmo tempo únicos perante as nossas crenças. É nesse espaço que construímos a nossa história, às vezes diabólicos às vezes divinos como os deuses que criamos.
Não nos libertaremos jamais desse conflito, como Prometeu no Cáucaso, eternamente desejando o Universo, continuamente atormentados pelo castigo da onipotência.
Sagrados e demoníacos, assim caminham os homens enquanto exista a Humanidade.
O que nos resta?
Buscarmos a totalidade e a integração entre o mal e o bem que nos afligem…
Por Dr. Graça Mota Figueiredo