– Ele está muito mal e a febre continua aumentando – disse a mãe.
– Vamos rezar e logo irá melhorar – respondeu o pai.
No dia seguinte, quando a menina voltou da escola, correu ao quarto para ver o irmão que dormia há horas. Soube que seria preciso um milagre para que sarasse e voltasse logo às aulas, em tempo de não perder o ano.
A garotinha, então, abriu o seu cofrinho e contou um real e trinta centavos – tudo o que conseguiu guardar. Foi até o hospital próximo ao morro e disse a um enfermeiro que queria comprar um milagre para o irmãozinho. Curioso, o atendente quis saber o que estava acontecendo.
– Eu fico triste quando o Juquinha está doente e a mamãe falou que é preciso um milagre para ele sarar!
– E quanto você trouxe para comprar o milagre?
– Tudo isto – disse ela, mostrando as moedas enroladas num pedaço de papel.
Um médico que saia do plantão ouviu a conversa e acompanhou a criança até sua casa. Foi quando descobriu que o menino estava com dengue e se prontificou a levá-lo para tratamento. Assim que a mãe perguntou-lhe quanto iria custar a visita, a filha entrou na conversa e falou:
– Mamãe, eu já paguei o milagre ao enfermeiro: um real e trinta centavos!
Pronto, final da história que pode até nunca ter acontecido, mas nos leva a uma reflexão muito importante: o valor da vida humana. Da boca para fora, todos dizem que uma vida não tem preço, mas as pessoas vivem se matando! Uns correm feito loucos nas estradas, outros andam armados, alguns acabam com a saúde nos vícios, mulheres recorrem ao aborto, contrariando a luta pela dignidade da vida por parte de tanta gente caridosa.
No ano passado, enquanto eu esperava minha esposa comprar uma passagem para nossa filha na rodoviária, um andante se aproximou do carro e pediu dinheiro para um sanduíche. Como eu tinha tempo, puxei conversa:
– Se eu lhe der dinheiro, você irá beber.
– Eu não vou beber. Estou com fome.
– Mas você já está bêbado! Por que não guardou o dinheiro para almoçar?
– Eu vou falar a verdade pro senhor – disse ele. – Bebida todo mundo paga quando a gente chega ao bar, mas comida ninguém dá.
Mesmo sabendo que aquilo não era a pura verdade, continuei o papo:
– Se você não aceitasse a bebida, ficaria mais fácil conseguir comida!
– Olha, quem já andou por muitos anos pelas ruas de São Paulo, não consegue esquecer o sofrimento se não beber. Mas, se o senhor não puder me ajudar e quiser ficar com este meu dinheiro, pode pegar porque o que é meu também é dos meus amigos – e tirou uns trocados do bolso, insistindo que eu pegasse.
Aquilo me cortou o coração. Dei um dinheiro a ele e recebi muito mais do que a quantia que entreguei:
– Deus lhe pague! – foi como ele me abençoou.
Embora sabendo que alguém como aquele mendigo dificilmente aceita um tratamento de saúde ou um pernoite em casas de passagens, continua sendo muito triste ver uma vida sendo jogada fora. É vergonhoso um filho de Deus – criatura humana como qualquer um de nós – ser humilhado e desprezado pela sociedade.
Se, por exemplo, tivéssemos mais vicentinos do que pobres no mundo, ninguém passaria fome. Sei que isto é utopia, mas poderia ser realidade se mais cristãos se ocupassem em ajudar os preferidos de Jesus Cristo. E somente quem cresceu em espiritualidade sabe que o próprio Jesus sofre no corpo do pobre.
Sem boa espiritualidade no coração, a oração e o amor ao próximo ficam em segundo plano, assim como o perdão, a humildade, a partilha, o dízimo e o próprio Reino de Deus! Quem não quer viver os ensinamentos da Sagrada Escritura está padecendo na Terra, mesmo sem saber.
Portanto, a causa de Jesus é a nossa causa; seu Espírito é a nossa espiritualidade. Não precisamos viver o milagre de andar sobre as águas, devemos mostrar o nosso amor a Deus servindo o próximo.
E você sabe quem é o seu próximo que não é servido com amor? Se tiver dúvidas, aproveite esta semana para recolher-se em períodos de oração, fazer visitas ao sacrário, receber os Sacramentos, evangelizar alguns ambientes, agradecer ao Pai pelos dons que recebeu… Aceitando esta orientação, em pouco tempo você também poderá ‘comprar um milagre’!