O silêncio me fascina. Penso muito no silêncio de Nossa Senhora que pensava e tudo guardava em seu coração. Penso no silêncio dos santos, como Santa Terezinha, aquela menina maravilhosa que dizia assim: “bendito silêncio que tanta paz infunde na alma”, também: “faz tanto bem, e dá tanta força, calar nossas penas”. Enquanto silenciamos, refletimos, reservamos. Para usar um verbo da atualidade, elaboramos melhor. Sim, elaborar as coisas, deixar os fatos descansando para depois voltar a eles, como se faz na culinária, com o pão que cresce, “reserve”. Não fazer nada a respeito, deixar que as coisas se encaminhem naturalmente. Enquanto isso, o mundo gira, as coisas mudam porque a vida é dinâmica e o que era não é mais, e o que não era, passa a ser. E tudo no silêncio, vivendo com a gente mesma e com os pensamentos que não cessam, porém desordenados, ao seu bel prazer. Se o silêncio não for guardado, se alguma infeliz palavra for proferida fora dos acordes e trâmites divinos tudo poderá desandar. Aquela coisa do “calei-me para não piorar as coisas”… Há o tempo de falar, há o tempo de calar. Os frutos do calar só aparecem algum tempo depois quando constatamos que se tivéssemos falado, tudo teria piorado.
Saindo da filosofia e para descontrair um pouco porque não hei de perder meu senso de humor por nada, só um exemplo do falar sem precisar. Há muito tempo, eu levei de volta à lavanderia uma blusa que adorava e que voltou drasticamente manchada. Com muito jeito, para não ser grosseira, mostrei à moça e ela, sem graça, estava olhando bem, quando de repente aparece o marido que também trabalhava lá e, sem saber do que havia acontecido, diz: “mas que coisa, qual a lavanderia porca que fez este serviço horroroso para a senhora?” a moça ficou arrasada porque teve que dizer: “foi aqui, bem…” e ele? Bom poderia ter dormido sem essa. “Bendito silêncio que tanta paz infunde na alma”.