O ser humano tem uma capacidade inata de desvalorizar o que o cerca, especialmente quando isso lhe é constantemente acessível. Essa tendência se observa em várias esferas da vida. As pessoas que vivem em uma floresta, por exemplo, convivem diariamente com árvores, plantas e todo o ecossistema que compõe aquele ambiente. No entanto, muitas delas acabam enxergando as árvores apenas pelo valor utilitário que oferecem: a madeira para construção, a lenha para aquecer, ou a cerca que protege. O que poderia ser um espetáculo natural aos olhos de muitos, torna-se apenas mais uma fonte de recursos, onde o valor intrínseco é muitas vezes esquecido ou relegado a segundo plano.
Da mesma forma, aqueles que habitam o litoral têm o privilégio de viver rodeados pelo mar, pelo som das ondas, pela vastidão do horizonte e pelos pores do sol que tingem o céu de tons alaranjados. Contudo, a familiaridade com esse cenário leva muitos a ignorá-lo, a não prestar atenção na areia que pisam ou no sol que se põe no final do dia. O que é extraordinário para quem visita passa a ser banal para quem vive no cotidiano desse ambiente. O encanto da natureza, dessa forma, parece se dissolver diante da repetição e da rotina, como se aquilo que antes era admirável se tornasse apenas uma moldura estática, parte de um fundo desbotado.
Essa tendência de reduzir o valor do que é constante ao nosso redor se estende, curiosamente, ao próprio potencial da mente humana. A capacidade de pensar, de gerar ideias, de refletir e imaginar, é um presente inestimável que carregamos conosco o tempo todo, mas que, por ser natural e sempre acessível, muitas vezes deixamos de apreciar. Em vez de vermos o pensamento como uma fonte de criação e descoberta, acabamos muitas vezes o utilizando apenas para resolver problemas imediatos e práticos, ou o subestimando, tratando-o como algo comum e trivial. Assim como as árvores e o mar, a habilidade de pensar e explorar o universo interno acaba sendo reduzida a um instrumento de uso cotidiano.
No entanto, nossa mente é um portal para um universo que vai muito além do que conseguimos ver ou tocar. O pensamento é a chave para um mundo imaterial, um espaço infinito onde podemos criar, imaginar, questionar e explorar possibilidades que não existem fisicamente, mas que podem ter um impacto profundo em nossas vidas e na maneira como entendemos o mundo. A capacidade de criar pensamentos e refletir é como um oceano dentro de nós, vasto e misterioso, que nos permite visitar realidades alternativas, resolver dilemas profundos e construir novas perspectivas sobre a vida. Cada ideia que temos é como uma semente plantada na mente, com o potencial de crescer e florescer, transformando o que conhecemos e abrindo portas para novas descobertas.
Resgatar o valor desse processo é fundamental para que possamos explorar nosso potencial ao máximo. Se enxergássemos nossos pensamentos com o mesmo deslumbre que uma criança vê uma floresta ou que um visitante vê o mar pela primeira vez, talvez conseguíssemos acessar camadas mais profundas da nossa criatividade e da nossa intuição. Valorizar a capacidade de pensar não é apenas uma questão de dar utilidade a ela, mas de reconhecer o poder que reside em cada reflexão, em cada questionamento e em cada momento de introspecção. A mente humana é um universo à parte, repleto de possibilidades inexploradas, esperando apenas que desviemos nosso olhar da superfície e nos aprofundemos em suas camadas.
Portanto, ao reconhecer essa capacidade como algo raro e valioso, podemos dar a ela um novo propósito. Em vez de vermos o pensamento como algo rotineiro e utilitário, podemos cultivá-lo como uma fonte constante de maravilha, algo que nos conecta a uma dimensão interna que não depende de nada externo para existir. Essa é a verdadeira mágica da mente humana: enquanto a floresta e o mar podem ser habitados e esquecidos por quem os vê todos os dias, a mente é um espaço que só será explorado e verdadeiramente valorizado por aqueles que aprendem a apreciá-la como o universo infinito e único que é.
Por Guilherme Pereira Torres